quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

O Essencial no Natal

 



Por essa altura, Judas, que o traiu, sabendo que Jesus tinha sido condenado à morte, lamentou (μεταμέλομαι) o que tinha feito, e devolveu (στρέφω) o dinheiro aos principais sacerdotes e aos anciãos.  Pequei(ἁμαρτάνω), porque traí (παραδίδωμι) um inocente.” Replicaram-lhe: “Isso é contigo!” Então, atirando com o dinheiro para o lajeado do templo, saiu e enforcou-se.

Mt 27.3-5

O que é o Natal? De uma forma geral, no Natal se traz a memória o nascimento e no caso especifico, o nascimento de Jesus. 

Não temos a consciência de nascimento quando nascemos: nascemos e depois temos consciência disso. No entanto Jesus expressou uma nova forma de nascimento: o novo nascimento que ao contrário do nascimento biológico, se tem a noção de que achegar-se a Cristo e tendo sido aproximado dele e Nele, pressupõe uma retomada de vida e a vida mediante um estado de despertamento da consciência.  Neste sentido a pergunta é: quando nossa consciência é despertada? Acreditem, Judas nos mostrará isso.

O evangelista Mateus, o mesmo que escreveu o Evangelho, nos afirma que Judas "depois que soube da condenação de Jesus, lamentou o que tinha feito. A expressão grega para "lamentou", μεταμέλομαι significa que ele mudou de posição, voltou atrás, queria fazer o caminho oposto. Judas "lamentou" o que tinha feito e não somente isso, devolveu ou seja, virou-se para si mesmo e cogitou consigo mesmo e logo após voltou-se para os sacerdotes devolvendo o dinheiro dizendo: Pequei! Ou seja, "me perdi, perdendo o alvo". Pecar é isso: perder o alvo e na perda do alvo perder-se naquilo que perdeu.

Isso é o despertar da consciência: reconhecer que deu um passo na direção errada e que agora quer o progresso indo na direção contrária. 

No momento do despertar de consciência de Judas, ai neste exato momento, Jesus nasce para ele. O Natal de verdade é quando nossa consciência é despertada em Cristo e se direciona para ele. 

O Natal de Judas foi assim.

Jesus nasceu para Judas quando ele lamentou o fato de ter traído a Jesus e essa seria a pior das traições: ele havia traído sangue inocente.

É uma maneira diferente de ver o Natal. Com essas lente o Natal ganha proporções essenciais. Dai surge a pergunta: o que é essencial no Natal? Qual a grande descoberta do Natal? Quando acontece de fato e de verdade o Natal?

Judas descobre o essencial no Natal: o essencial é não trair a Jesus.

Para que eu não traia a Jesus eu preciso saber as razões pelas quais ele nasceu.

João, o apóstolo diz-nos que:  "Nele estava a Vida, e a Vida era a Luz dos Homens". Jo 1.4,5.

Quando Jesus nasceu, ele trouxe Luz! Isso é maravilhoso, mas também é denunciante. Se Jesus veio ao mundo trazendo Luz, é porque o mundo antes de Jesus estava em trevas. 

Receber a Cristo é sair das trevas e entrar na Luz.

Receber a Cristo resgata o verdadeiro sentido do Natal! 

Em Cristo, o Natal é radiação de Luz! 

Jesus não é Luz passageira, é Luz que se instala e permanece. Nós somos convidados, no Natal, a entrar nessa Luz maravilhosa, profunda e Salvadora.

Judas teve a sua oportunidade, teve sua consciência despertada e ao enxergar, através da luz, correu (...) correu e foi devolver o dinheiro que havia recebido para entregar a Cristo.

Ele devolveu o dinheiro (στρέφω), virou-se, foi embora e descobriu que não valeria a pena, não vale a pena.

Neste Natal, o que é que temos que devolver para que a Luz nasça?

Para onde e de onde devemos voltar?

Minha oração é que neste Natal as consciências sejam despertadas.

...e que seja um Feliz despertamento natalino!


sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Ensino Religioso: Educação e Sanidade em sala de aula.

 


É de conhecimento público o poder que a religião possui a partir da experiência na pratica religiosa. Para além dessas experiências particulares de cada indivíduo há uma importância na religião e não podemos simplesmente ignorar ou demonizar a sua existência. Nas escolas o assunto caminha pelos corredores e por isso se faz necessário fazer incursões de forma equilibrada respeitando as várias correntes religiosas ou movimentos religiosos sem banalizações ou piadas.

O ensino religioso faz parte das salas de aula nas mais variadas escolas e cada uma procura adotar métodos para facilitar o ensino de forma a impedir fanatismos e exageros. A escola é um espaço social e a ideia, com o ensino religioso é saber como esta temática pode contribuir de forma saudável e positivamente para o ambiente em sala de aula.

O título proposto de nossa reflexão possui a intenção de provocar uma necessária elucidação sobre a religião e sua relação com a educação na companhia sempre amigável da sanidade. É de inteira responsabilidade do docente que está com a incumbência de facilitar a aprendizagem no campo da religião, os métodos e caminhos utilizados para que todos possam ter uma compreensão abrangente do assunto, clarificando-o e explorando-o, abrindo assim espaços de debates e reflexões.

É possível a aplicação do ensino religioso, sim, é possível mesmo em um período de tanto ódio contra a religião e um ódio provocado por um des-curso e não discurso, mal elaborado privilegiando certos movimentos espalhados em nossa sociedade. Se quisermos ter êxito nesse tema, precisamos, repito, clarifica-lo o máximo possível investindo tempo nos conceitos existentes, ampliando-os, aprofundando-os e expandindo-os.

1.       O QUE É RELIGIÃO?

Se vamos falar sobre ensino religioso, então comecemos falando sobre o conceito de religião. Sim, comecemos colocando os pratos na mesa de forma ordenada para que não haja desinformações. Se fizermos uma boa introdução do assunto, estaremos pavimentando o caminho.

Ludwig Feuerbach, dirá o seguinte sobre a ideia ou conceito de religião:

A consciência de Deus é autoconsciência, conhecimento de Deus é autoconhecimento. A religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos íntimos, a confissão aberta dos seus segredos de amor.”

O ser humano possui uma busca consciente ou inconsciente pelo sagrado, dentro dele existe essa necessidade, esse vazio que sai em busca de alguma coisa, de algo que possa preencher esse vazio ou essa expectativa por algo que não se consegue dar, à vezes, um nome, mas que no sentido religioso o nome é, Deus. É aquilo que Ludwig Feuerbach chama de “desvelar dos tesouros ocultos”.

O saudoso Rubem Alves, em seu livro “O que é Religião”, contribuirá para estabelecer um conceito, dizendo o seguinte:

No processo histórico através do qual nossa civilização se formou, recebemos uma herança simbólico-religiosa, a partir de duas vertentes. De um lado, os hebreus e os cristãos. Do outro, as tradições culturais dos gregos e dos romanos. Com estes símbolos vieram visões de mundo totalmente distintas, mas eles se amalgamaram, transformando-se mutuamente, e vieram a florescer em meio às condições materiais de vida dos povos que os receberam. E foi daí que surgiu aquele período de nossa história batizado como Idade Média”.

Basicamente, uma teia de símbolos, diz Rubem Alves. Um ser humano está em busca de transcendência e isso passa de geração a geração. A religião passa deixando herança religiosa. Desse modo o sagrado, sendo passado de geração à geração, sofre uma espécie de colonização e se torna cristianizado pela cosmovisão cristã. No entanto, não estamos falando em sala de aula apenas de uma vertente da religião, ou apenas de um movimento. A religião se pluraliza e se diversifica. As heranças devem ser respeitadas, digo, as heranças religiosas devem ser respeitadas, mas elas estarão ao lado de outras heranças que também devem ser respeitadas.

Deste modo, tratamos religião aqui como um espaço pedagógico para uma mística da relação e do diálogo que habita entre a educação e o amor cujo resultado final será uma ética-religiosa que inclua o outro como parte do todo.

Isidoro Mazzarolo, fazendo uma distinção entre Religião e espiritualidade, tras a seguinte ideia: “A religião é o “meme”, que se transmite de geração em geração, através da família, da educação e dos conhecimentos. A religião tem mais cultura que espiritualidade, tem mais de expressão humana, visual e concreta que elementos transcendentes”.

Para Mazzarolo, a Religião é cultural e fala mais a ritos visíveis do que a interioridade do ser. Bom, se há Religião deve haver algum tipo de espiritualidade ou espiritualismo. Observem os termos pois será preciso deixa-los claros em sala de aula.

Diante desses breves conceitos sobre Religião, podemos ver que além de ser um movimento de cada pessoa, ela também se constitui em um sentimento coletivo e, portanto, social. O desafio no ajuntamento é perceber como cada um foi, é e está sendo construído ou como se está construindo a religião em cada estudante. Ora, em dias polarizados e de pluralismo mais do que exacerbado, há de se produzir luz abundante sobre esse assunto para iluminar a todos.

2.      O QUE É EDUCAÇÃO?

Celso Antunes em seu livro, “Introdução a educação”, nos diz que:

Em certo sentido vocabular, a palavra “educação” nos remete ao ato ou efeito de educar, processo que busca o desenvolvimento harmônico da pessoa nos seus aspectos intelectual, moral e físico, e sua inserção na sociedade. Considerando que a espécie humana nasce imatura tanto do ponto de vista biológico quanto de suas condições intelectuais, a educação é um conjunto de práticas e usos destinados à preparação progressiva para inserção plena da criança na comunidade em que vive e na sociedade à qual essa comunidade se integra. Assim, a educação busca suprir tudo quanto pelo instinto a espécie humana não consegue obter: noções de higiene, cuidados corporais, informações sobre saúde, alimentação, relações interpessoais e inúmeras outras formas de procedimento”.

Pelo visto, segundo celso Antunes, o ser humano não nasce educado. Ele é educado no processo de seu desenvolvimento e sendo assim, há uma parceria entre Escola, Docente e os pais. Sim, o papel da escola não é a escolarização, mas a educação em parceria com os pais. Em sala de aula o estudante aprende junto com outros estudantes a partir das temáticas facilitadoras introduzidas pelos docentes. No caso do ensino religioso o estudante também aprende ou clarifica o assunto compreendendo junto com outros, na mesma sala, a pluralidade e complexidade do conteúdo. É claro que em casa, cada um passa pelo processo hereditário dos assuntos religiosos, ou seja, em casa esse estudante recebe os primeiros passos na vida religiosa (pelo menos se imagina isso) e em sala de aula ele acaba se encontrando com outros que vivem em experiencias religiosas, passando assim a conviver com elas e ampliando o próprio conceito de religião.

Na escola o estudante é educado nos assuntos religiosos, principalmente a conviver com a opção religiosa do outro. Para isso o docente, embora tenha a sua opção religiosa, não ensinará a sua opção religiosa, mas fará incursões nas religiões mais diversas, incluindo a sua. Isso é educação. “Desenvolvimento harmônico”, é isso que Celso Antunes diz. O educador é uma pessoa compartilhando o caminho processual do desenvolvimento humano com outras pessoas. É mais do que ser Professor, entende? É mais do que distribuição de conteúdo, entende? É ser participativo dentro do processo. É de alguma forma, na medida do possível, segurar na mão. Aqui não há caminho fácil, mas o educador pode ser um facilitador do caminho a partir de sua experiência. Presume-se que o docente-educador, saiba o caminho ou pelo menos já esteja um pouco a frente daqueles que estão iniciando o caminho. Para que isso tenha êxito é claro que deve haver uma força tarefa: pais, escola, docentes, planejamentos, organizações, enfim, o trabalho é laborioso.  

Rubem Alves, o eterno professor, pedagogo, educador, psicanalista, poeta e ex-pastor e tantas outras coisas que servem como referência, dirá que “educação é ensinar a ver”. Uma pedagogia do olhar. Ele sempre tocava nesse assunto. Ainda com ele, Rubem Alves, ouve-se o seguinte: “...não consigo me lembrar de qualquer referência à educação do olhar ou a importância do olhar na educação...”.

Dentro desta perspectiva, o ser educado é alguém que aprendeu a ver a si mesmo e ao outro. É preciso educar a sensibilidade, é preciso uma educação dos sentidos, do sentir. Assim o estudante em sala de aula captará a importância da religião do outro para o outro, diferenciando ou não da sua, porém com a certeza de que embora diferentes, não precisarão ser indiferentes um com o outro.

3.       SANIDADE EM SALA DE AULA.

Quando falamos de sanidade em sala de aula, estamos falando de saúde mental, compreensiva, no trato das relações entre pessoas que professam credos diferentes, mas são colegas em sala de aula. A religião faz parte da composição humana que faz parte de uma sociedade que se relaciona e que assim, acredita-se, evolui. Evoluir aqui não significa adaptar-se a religião do outro diluindo a sua, mas uma compreensão saudável que o espaço do outro deve ser respeitado. É preciso criar um espaço religioso saudável para a exposição do próprio ensino religioso.

Deste do ponto de vista da sanidade em sala de aula na exposição do ensino religioso, deve-se peregrinar pelos espaços sagrados com respeito e reverencia detectando os pontos positivos e negativos sempre trabalhando com respeito. O trabalho do docente é levar os assuntos a reflexão fazendo com o estudante possa estar à vontade para expor a sua opinião.

No debate dialogal é preciso levar o ensino religioso que traga saúde para todos. Um estudo religioso que não lhes imprima medo: religião que imprime medo acaba perdendo o seu religare, ou seja, a religião que não liga novamente, que não faz com que as pessoas se voltem para Deus e o seu próximo, ou seu Deus e ao seu próximo, perde a sua eficaz positiva e não cumpre a sua missão de juntar. A sanidade esta ai: separando trigo e joio.

Conclusão.

Hoje a sociedade em que vivemos se mostra muito mais complexa e pluralista do que sociedade de vinte, trinta anos atrás. Isto não é apenas uma constatação social, é o próprio desenvolvimento cultural que trata de expor a nós a sua forma de vida. A sala de aula é um espaço social cheio de cultura, de pessoas que vivem nos mais diversos ambientes e professam as mais diversas crenças. Criar um ambiente saudável para o ensino é preparar essa geração para viver em paz num futuro próximo que começa hoje. Avante! Docentes. Cumpramos nossa missão.


quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Diálogo entre História, Educação e Geografia.

 


A tempos os conteúdos, as chamadas disciplinas nas escolas, já carregam em si mesmas, a abertura singela e sincera a um certo diálogo. O ser humano é um ser histórico que com o passar dos tempos foi sendo educado segundo o seu tempo e sua época, vivendo e interagindo com o chão por onde ele mesmo pisa. A vida acontece na concretude da realidade, tornando assim possível e necessário essa interação entre História, Educação e Geografia, e não apenas esses, mas poderíamos incluir outras ciências tais como antropologia e a própria psicologia. O homem é fruto do meio onde vive e portanto, adapta-se ao momento, ao tempo, as épocas e situações. A cada época, apresenta-se de uma forma de acordo com os costumes aprendidos e com eles interage.

Durante a história, o ser humano vem aprendendo com o espaço ao seu redor: ele inclui-se e exclui-se. É camaleão nas convivências, metamorfoseia-se de acordo com suas necessidades. O ser humano é, historicamente falando, ambivalente: conhecido e estranho, jardim e pântano, estrela brilhante e cadente (...) O ser humano é linguagem pluriforme. O ser humano é antropossêmico, um arcabouço de significados, projeto existencial, um caminhante em processo de amadurecimento.

No campo da educação, o ser humano é preparado para ser cidadão, no campo da geografia, é ensinado a lidar com o meio onde vive, respeitando a terra, a natureza e o meio ambiente, onde ele mesmo extrai o seu próprio alimento e, portanto, sustento. No campo da história, o homem é a história: carrega grudado em si, partes da existência história e cultural do outro.

Do diálogo entre os três saberes (podem ser mais) nasce o caminho que sai de uma visão reducionista do homem, para uma visão mais expansiva e aprofundada.

O ser humano caminha pela história, faz história e é história caminhante. Carrega impresso em si, as marcas de alguém que viveu o passado, presente e angustia-se pelo futuro. Luta por espaço, mas gentilmente, dá lugar ao outro. Devora e devora-se, mas oferece alimento. Poderíamos acoplar à essa tríade, a antropologia que, no campo filosófico, dirá que o ser humano é aquilo que ele mesmo carrega.

Para finalizar, é de relevante importância ressaltar que História, Educação e Geografia devem dialogar sempre, a qualquer momento, em qualquer circunstância ou época.

terça-feira, 18 de julho de 2023

Psiu! Em análise.


O olhar "defeitos" do outro, expurga os meus?

O desejo de ser notado, faz com que eu exponha o outro.

O desejo que eu tenho que o outro satisfaça em si mesmo seus próprios desejos é o resultado dos meus desejos que faço e realizo em mim mesmo.

A feiura dos outros abaixo de minhas pálpebras, é minha feiura que tento esconder.

O pecado que tanto combato no outro pode ser, consciente ou inconscientemente, o meu pecado abafado, reprimido, enjaulado, domesticado (...)

A vitória do outro pode ser a minha vitória que não consegui vencer e nele me realizo.

Será que é possível perceber?

Ver os fatos é ver um recorte da realidade que nos rodeia.

A realidade que vemos não é toda a realidade, na verdade, é toda realidade que podemos captar a partir do momento em que nos vemos inseridos dentro desta realidade.

A realidade é tudo aquilo na qual estou inserido.

Isso significa que no mundo onde estou inserido corro o risco de fazer comparações entre mim e um outro diferente de mim, mas que na verdade, não é tão diferente assim uma vez em que eu procuro descobrir no outro o que desejo resolver em mim.

Complexamente simples.

No entanto, fazer comparações adoece e apodrece o ser. Quando faço comparações corro o risco de expor, pelo menos dois tipos de complexo: superioridade ou inferioridade, ou seja, na comparação eu começo por cima ou por baixo e quase nunca do lado.

O mundo que me incomoda é o mundo diferente do meu. Incomoda tanto que eu passo a persegui-lo.

Caso eu passe a falar de bola durante 24h do meu dia, acredite, eu tenho um problema com bolas. Se eu passo a falar do fato de um outro procurar andar em um caminho reto, acredito, é porque estou andando em um caminho errado.

Tudo aquilo que eu, exageradamente reparo no outro, falta, na maioria das vezes, em mim.

Por isso, cultivar o silêncio e educar as palavras é um caminho.

O amor não é livre. Se o amor fosse livre ninguém amaria, pois o que é livre não é amado.

Bem, o que será ser livre?

O amor livre não é desejado porque o amor livre machuca. Se alguém deseja um amor livre está doente ou adoecido de suas emoções ou ainda não sabe o que é amor.

Ciúmes? Ah...

Eis ai, um problema.

Ciúmes, já dizia o poeta Rubem Alves, é a constatação de que o outro não é posse.

...e o amor livre?

Espelhos.

Olho de vidro.

Quando não estou bem na foto é porque o corpo não estava ajustado. Isto pode significar que eu tenho um corpo para a foto (pose) e um corpo que uso para o dia a dia. Ambos corpos são meus, mas qual o verdadeiro? Na foto, exibida via redes sociais, há sorrisos (...) quem sorrir? Eu ou a necessidade de expor que estou bem? 

Quem persegue o que está fazendo o "errado", o faz pelo bem ou porque deseja errar também? 

Nunca vi algo tão duro quanto o olhar denunciante de uma alma amarga. Não gozou a existência e a vida não lhe amou em nada.

O Psicanalista observa o paciente no Divã, mas quem está em análise é ele.


quarta-feira, 5 de julho de 2023

O Conceito de Revelação



Pois o que se pode conhecer a respeito de Deus é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou (φανερόω -  phaneróō).



Faço isto para que o coração deles seja consolado e para que eles, vinculados em amor, tenham toda a riqueza da plena convicção do entendimento, para conhecimento do mistério (μυστήριον  - mystḗrion) de Deus, que é Cristo,



Revelação (ἀποκάλυψις - apokálypsis) de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando o seu anjo, deu a conhecer ao seu servo João, que atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu.



φανερόω -  phaneróō - apropriadamente, iluminar, tornar manifesto ( visível ); (figurativamente) tornar claro, à vista ; para se tornar aparente ("apreensível").

μυστήριον  - mystḗrion - não é algo incognoscível . Pelo contrário, é o que só pode ser conhecido por revelação , ou seja, porque Deus o revela.

ἀποκάλυψις - apokálypsis - A descoberta do que estava coberto. A manifestação do oculto.


A palavra "revelação", quando mencionada, evoca simbolismos, sonhos, desejos e expectativas. O que foi revelado? O que está sendo revelado? O que podemos conhecer do que foi revelado? A palavra revelação, em sua essência, significa justamente tirar o véu, descobrir, expor. É o ato de tornar claro, visível e iluminado aquilo que estava oculto, escondido e desconhecido.

No entanto, uma vez que algo é revelado, deixa de ser um mistério e se torna manifesto. A grande questão diante disso é: quando algo está oculto, escondido e afastado dos olhos, não há posições a serem tomadas, mas quando algo se torna manifesto, exige, de forma imperativa, uma decisão e uma posição daquele que teve os olhos abertos, daquele que presenciou a verdade nua, daquele cujo véu nos olhos não existe mais.

A revelação sobre Deus é um ato unilateral de Deus que deseja mostrar-se, manifestar-se diante do seu povo e diante de todos os povos.

A revelação coloca você diante de si mesmo ou de si mesma. Não há nada em oculto mais. Resta apenas um ato, uma ação: acolher o que foi revelado e caminhar desperto.

A revelação revela um Deus relacional que comunica seus pensamentos e seus planos, na medida do possível, a mentes humanas, finitas, frágeis e preguiçosas, muitas vezes, para absolvê-la.

terça-feira, 27 de junho de 2023

As Credenciais do Reino

 


Então, lhe trouxeram algumas crianças (παιδίον) para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, vendo isto, indignou-se (γανακτέω)e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava.

 

Marcos 10:13-16


Não encontrei entre os seres humanos, algo mais luminoso e inocente como o olhar de uma criança. É de fato, paralisante, encantador e de uma presença transcendental, inigualável. Ao mesmo tempo que há fragilidade, há também uma presença poderosa e transformadora. Elas simplesmente possuem o poder de deixar o mundo melhor. Não é à toa, que Jesus disse que “das tais, é o Reino de Deus”. Na verdade, ele foi mais profundo ainda, disse que “quem não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele”. É, profundamente inquietante, tal afirmação.

No entanto, tal expressão foi manifestada quando “alguns discípulos” quiseram impedir as crianças de se aproximarem dele. Olhe o texto, capte toda a sua essência (...) transfira-se para lá (...) ouça-o.

O texto, descrito acima, é parte de uma narrativa onde Jesus está discutindo com os Fariseus e nesse contexto, algumas famílias, até para quebrar esse clima, estavam trazendo algumas crianças para Ele abençoá-las, mas os discípulos, criados em uma cultura onde as crianças não tinham tanta relevância, apesar de serem tidas como Benção e Herança do Senhor, tentaram impedir que elas se aproximassem de Jesus, como que elas pudessem incomodá-lo. Observando o texto, Jesus fica “indignado”, a expressão na língua em que o texto foi escrito é: ἀγανακτέω que significa que ele lamentou muito essa atitude dos discípulos. Jesus lamentou, ficou triste com os discípulos por eles terem tentado impedir as crianças de se aproximarem dele. Esse é o contexto.

O Resultado disso foi uma tremenda advertência: “Deixai vir a mim as criancinhas...”. As criancinhas aqui tinham entre zero a sete anos. Tanto eram crianças de colo quanto crianças um pouco maiores, mas para jesus eram “criancinhas”. É que o olhar de Jesus alcança mais fundo (...) Ele sabe.

Jesus irá dizer que das “criancinhas” é o Reino de Deus e quem não abraçar o Reino de Deus como uma “criancinha”, não terá aceso a ele, ou seja, não terá o convite para entrar ou não receberá o convite, ou ainda não será convidado a entrar. Essa é, literalmente a expressão do texto.

Diante disso eu, simplesmente paro e me perco no tempo pensando em cada palavra que sai dos lábios de Jesus, sendo registrada pelos evangelistas. Neste caso, a importância que ele oferece as “criancinhas” e o cuidado que ele possui por elas.

A inocência e a incapacidade da “criancinha” em cuidar de si mesma, de se proteger (...) a criança precisa de cuidados, atenção (...) ela precisa ser preservada (...) ela precisa de acolhimento. A “criancinha” é dependente, não há maldade nela, há na verdade, uma vontade de transformar tudo em parque de diversão. A “criancinha” se aproxima sem medo. Ela percebe que estar próximo a Cristo é seguro (...) Cristo é lugar seguro.

Quando Jesus “libera o acesso a ele”, as criancinhas correm para seus braços, para o abraço mais seguro do universo!

Você sabe o que é um abraço seguro?!

Jesus as abraça e diz uma das frases mais penetrantes que um ser humano pode ouvir: “... o Reino de Deus é das criancinhas e que não receber o Reino como uma criancinha não será convidado ou convidada a entrar nele”. Isso é sério.

Para ser convidado a entrar no Reino, qualquer pessoa deve aceitar o Reino ou recebe-lo no mesmo sentido de uma criancinha, ou seja, de forma inocente, dependente e sem maldades. O Reino de Deus é para pessoas que o recebe assim e isso só é possível através da vida transformada pelo Poder do espírito de cristo que efetua essa transformação, fazendo com que tal pessoa, nasça novamente.

É por isso que as “criancinhas” devem ser preservadas, protegidas pois, além de serem modelo de participação no Reino e do Reino, elas podem salvar o mundo dessa feiura, dessa perversão, maldade, ceticismo e vida independente de Deus. É o sorriso da “criancinha” que torna o mundo belo.

Preservem as “criancinhas” e aprendam com elas, a vida do Reino de Deus, caso contrário, perderemos o convite mais importante de nossas vidas.

domingo, 9 de abril de 2023

Ressurreição.

 


No silêncio, bem longe dos olhos, a vida acontece.

Há transformações que acontecem sem que ninguém as  veja.

Longe da percepção humana, a vida se aproxima.

É no fim de tudo que tudo começa.

Observe a semente: você a vê?

O Pássaro construindo ninho: você os vê?

A aranha tecendo a sua teia: você a vê?

Nossos olhos ligeiros e a existência corrida, não permitem (...) então, tudo vai passando e você vai junto.

A existência obriga-nos a ter sucesso diário e enquanto isso, a vida espera.

A corrida...

A hora...

A pressa...

O trânsito...

...e ali no cantinho o Sol se põe.

E o sono chega.

Quando foi a última vez em que você viu o nascer do dia?

O vento no rosto?

O Barulho do silêncio?

As árvores trocam as folhas, mudam, transformam-se (...)

Metamorfose.

De repente você se encontra com a vida e pensa que ela é apenas uma chave que abre uma porta e então, você não vive.

A existência é preferível por muitos.

A Vida nem todos querem.

A existência exige que você coma tudo.

A vida quer que você deguste.


Ressurreição?


Um dia alguém desceu ao campo da morte e colheu uma flor de sangue. Três dias depois voltou do campo da morte carregando um jardim cheio de Flores de Vida e resolveu doá-lo à quem olhar em seus olhos, entrar neles e nunca mais sair.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

De quem é a Culpa? A Invasão no Congresso.

 



De quem é a Culpa?

Do fogo que incendeia a Floresta ou das mãos que colocaram o fogo lá?

Da bala perdida que matou a criança ou das mãos que apertaram o gatilho?

Da bebiba alcóolica ou de quem bebeu a bebiba alcóolica e foi dirigir com os reflexos comprometidos e atropelou um inocente?

Do assaltante morto ou da Vitima que o matou para se defender?

De quem começa a briga ou de quem reage a provocação?

De quem é a Culpa?


O problema não é a informação, mas o excesso dela.

O problema não é a informação, mas os veículos que veiculam a informação.

O problema não é necessariamente de quem ouve, mas de quem fala primeiro.

O problema não é a falta do bem, mas o bem travestido de mal.

De quem é a culpa?


Ora, não é a luz solar que afeta a córnea, mas os olhos que são frágeis e não suportam a luz solar.

A verdade é um problema que nem todos querem ver.

A solução é uma verdade que nem todos estão dispostos a praticar.

Falta consciência, mas sobra a hipocrisia.

...é ruim a fala que não diz nada.

É ruim a verdade incompleta.

Desenhar o Sol em uma tela e dizer que a tela é o Sol, é uma ofensa ao próprio Sol.

Apontar um culpado e esquecer a origem do problema é ofender a inteligência alheia.

Não é que o caos olha para o abismo. 

É o abismo que nasce do caos.

Então, de quem é a culpa?


"Quem ocupa o trono tem culpa
  Quem oculta o crime também
  Quem duvida da vida tem culpa
  Quem evita a dúvida também tem".

                                                           E.H