quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2020 - O Ano da Dor

 


Não vos comove isto a todos vós que passais pelo caminho? Atendei, e vede, se há dor como a minha dor (...)

Lm 1.12

Desde a queda do Homem (a utilização do substantivo aqui é puramente metonímica) a dor passou a agenda humana e nunca mais desvizinhou-se. A dor desarticula, põe tudo pelo avesso, instala o império do gemido, da tristeza onde a grande rainha se assenta em seu trono de lágrimas: a angustia.

Francisco Otaviano, em seu pensamento dolorosamente poético, capitou a presença da dor, dizendo: "Quem passou pela vida em brancas nuvens e num plácido repouso adormeceu; quem passou pela vida e não sofreu, não foi homem, foi expectoro de homem, porque só passou pela vida e não viveu".

2020 foi justamente assim!

2020 é marcado por lágrimas (a única linguagem que não precisa de interpretação) lamentações (...) a dor pulsa. 

A dor esteve presente nos telejornais, nas rodas de conversas informais, nas filas dos mercantis, na caminhada matinal e noturna. A dor esteve estampada nos muros, nos cartazes pregados, nas paradas de ônibus, nos coletivos lotados - a dor estava estampada no rosto do idoso como nunca antes esteve.

A dor esteve presente nos bares, nas vielas, nos becos, nas ruas...

A dor esteve presente, intensivamente nas garotas de programa - garotas andando pelas ruas em busca de um alimento que só encontraram nas mãos dos tarados e frustrados de uma sociedade hipocritamente sangrenta. Sim! Essas meninas violentadas por uns "trocados" sentiram dores inimagináveis em 2020.

Mas não se engane, nas casas luxuosas, entre gente de posse também houve muita dor. A dor que o dinheiro não pode aplacar, que o carro luxuoso, com todo o seu conforto, não pode aliviar.

Entre os pobres há muita dor - 2020 foi doloroso para aqueles que baixa economia, de poucos recursos. A vida não tem sido fácil para essa classe.

2020 - O ano da dor.

O ano em que um vírus espalhou-se por todos os continentes do planeta. Sim! o grande protagonista de 2020 foi o corona vírus - Covid 19.

O corona vírus - covid 19, só aqui no Brasil, neste exato momento, enquanto muitos estão soltando fogos, já levou (devido as suas complicações) 193.875 pessoas. 

São 193.875 lágrimas elevadas ao quadrado. 

A quantidade de pessoas que se foram, é a quantidade de pessoas que aqui ainda estão sentindo DORES! No mundo,1.810.360 mortos - uma verdadeira tragédia! Imensurável!

2020 - O ano da dor.  Não (...) 

Não pense que sou pessimista, não, não sou pessimista - sou realista.

Não há o que comemorar.

Não sou do tipo que fica imaginando uma vida que não existe - 

A existência implica situações reais.

Onde cabe um sorriso?!

A dor nivela a todos.

Não há ricos, pobres, negros, brancos, heteros, homos ou qualquer outra classe - 

A dor coloca todos no mesmo lugar.

Em 2020 a vida tornou-se menor.

O mundo encolheu.

A terra abiu a boca e guardou a muitos.

2020 deixou uma ata de registros emocionais impregnada da palavra luto. 

2020 foi um ano de últimos olhares para muitos (...) 

Últimas palavras, últimos sorrisos, últimos desejos de abraços. 

2020 - O ano da dor. O ano de encarceramentos físicos, emocionais, psicológicos...

O ano da palavra exprimida, da dor sentida, da pergunta dolorida, da lágrima abatida...

O ano dos encontros impedidos, dos abraços não acontecidos - 

...dos amores morridos.

2020 - O ano da dor.

O ano da Pandemia do corona vírus - Covid 19

Mas...

Em algum lugar deve haver um mundo diferente (...) um ano diferente.

Além do arco - íris...

Deve haver um lugar onde a dor não mais irá doer.

Onde as pessoas não irão mais morrer.

...é.

Eu estava quase esquecendo...

aproxima-se 2021.

Que haja mais flores do que espinhos.

Que haja menos guerras e mais carinho.

Que haja mais vida do que morte.

Que haja vida...

Vida...


Seja bem vindo, 2021.





quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

O Natal de Nicodemos




NICODEMOS INICIA O DIÁLOGO.

 - Importa que seja apenas nós dois: não quero que ninguém veja-nos, não quero que ninguém nos importune, não quero multidões ao nosso redor tentando arrancar alguma coisa de ti.

- Importa que seja apenas nós dois: Há coisas que preciso entender, palavras tuas que preciso absolver - há algo a mais ai quando tu falas.

- Importa que seja apenas nós dois: quero olhar nos teus olhos cheios de um amor que nunca vi, talvez ele preencha um vazio que há aqui, neste peito de um homem cujas letras dançam sem sentido.

- Importa que seja apenas nós dois: as letras cravadas nas tábuas de pedra apontam-me um caminho. Talvez as tuas palavras me coloquem nele.

- Importa que seja apenas nós dois: um lugar reservado...

- Importa, sim! Eu lhe peço, que seja apenas nós dois: há um Reino além daqui? Tu és um Homem vindo da parte de Deus! Tu sabes a resposta. Sim! Tu sabes! Ninguém faz as coisas que tu fazes sem que Deus esteja nisso tudo. Me fala então (...) arruma sossego para o meu coração e me diz: Há cura para a minha ilusão?!


O MESTRE RESPONDE:


- Nicodemos, Ah Nicodemos: estamos apenas nós dois.

- Nicodemos, para falarmos das coisas que tens ai guardado dentre de ti, temos que sair dessa dimensão religiosa e aprofundar - então, ai dentro desse mar, tu encontrarás a resposta.

- Nicodemos, sei o porque tu me perguntas desse jeito, entendo a tua procura pelo Reino, mas se queres saber mais do que o povo, então terás que NASCER DE NOVO.

- Terás que nascer de novo para ver, terás que nascer de novo para entrar.


NICODEMOS RECTRUCA:


- Como posso eu nascer de novo?! Voltarei ao ventre de minha mãe?


O MESTRE ACODE:


-Nicodemos, o que é daqui é daqui...

- Há um nascimento não daqui, mas do alto. 

- Não se admire que eu tenha dito: é necessário nascer de novo.

- É necessário nascer de novo.

- Que haja em ti, um nascer...

- Nascer do alto, Nicodemos.


XX



Só há Natal no encontro.


Um Natal de Paz à Todos!

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O Natal de Pedro

 


Quando falei de nosso Senhor para vocês, de como ele chegou até nós, acredite, eu não estava falando uma fábula e nem o que falei foi baseado em uma fábula pois, eu mesmo o vi com meus próprios olhos - vi o quanto ele é majestoso. Ele foi honrado pelo seu Pai que conosco falou dizendo que nele, a sua alma se alegrava. 

Eu posso testificar isso, sim! Eu estava naquele monte - monte santo - e não estava dormindo, nem delirando, mas vi com meus olhos. As profecias referiam-se à ele e as testifico porque o vi, andei com ele, as profecias são verdadeiras pois ele é verdadeiro.

A palavra dos antigos sobre ele é real e verdadeira, creiam vocês  como eu cri - atente para as palavras - elas serão como uma lâmpada que brilha em lugar escuro até que chegue o dia e ai então, nasça a Estrela da Alva no coração de cada um de vocês.


Parafraseando 2Pe 1.16-19


quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Teologia & Espiritualidade

 


E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviastes

Jo 17.3

Teologia e Espiritualidade não são antagônicas, pelo contrário, se compenetram, coexistem - é impossível desassociá-las.

Jesus, em sua oração sacerdotal, pede ao Pai, em favor de seus discípulos, que eles possam conhecer (ginṓskōa Deus e a ele mesmo, Jesus. Esse conhecimento é, além de ser um conhecimento intelectual, cognitivo, é também e até mais, experimental

Os estudos teológicos nos levam à esse conhecimento intelectual (Teologia) e a experiência, a vida com Deus - a prática da vida com Deus no dia a dia, nos conduz a espiritualidade.

Aqui, Teologia e Espiritualidade se fundem. 

Gostaria de deixar aqui o conceito de Teologia, mas antes, gostaria de dizer o que a Teologia não é, usando as palavras sábias de Rubem Alves: "Teologia não é uma rede que se teça para apanhar Deus em suas malhas, porque Deus não é peixe, mas vento que não se pode segurar".

Gosto do Rubem Alves porque ele vai direto ao ponto.

Não estudamos Teologia para dissecar Deus.

Não estudamos Teologia para explicar Deus.

Não estudamos Teologia para entender Deus.

Estudamos Teologia porque estamos em uma intensa relação com Deus que perpassa as fronteiras da percepção e nos conduz a procurar os rastros que ele, quando passa, deixa pelo caminho.

É isso.

De tantos conceitos sobre Teologia, particularmente gosto da proposta do Karl Rahner: "A Teologia é a Ciência da Fé. É a explanação e a explicação consciente e metódica da revelação Divina, recebida e compreendida pela fé"

Recebida e compreendida pela .

O detalhe curioso e interessante aqui é: o Teólogo é aquele que se debruça sobre a revelação Divina.

Nós só podemos caminhar em direção a Deus se ele revelar-se a nós, caso contrário, conhecê-lo seria impossível.

Sobre Espiritualidade podemos dizer que é algo além da religião. A religião é uma herança recebida através da família que ensina e educa em um determinado caminho religioso. A religião tem mais cultura que espiritualidade, tem mais de expressão humana, visual e concreta que elementos transcendentes. Isso não significa que na espiritualidade não haja religião como símbolo celebrativo, mas significa que a espiritualidade da o "animus" a religião.

A Espiritualidade nos leva para um campo aberto. Quando a revelação chega e a compreendemos - as escamas caem dos nossos olhos. A Vida ganha outros contornos. Após a revelação, vem a peregrinação - saímos em busca de Deus e de seus passos. 

É justamente por causa disso que digo e afirmo: Teologia e Espiritualidade andam juntas!

O Teólogo é aquele que ora para compreender a revelação.

O Teólogo é aquele que se debruça sobre a revelação.

O Teólogo é aquele que se encanta após a compreensão da revelação.

O Teólogo é aquele que se rende ao único Deus verdadeiro.

O Teólogo é aquele que presa por uma Teologia Espiritual.

É preciso haver espiritualidade na Teologia.

É preciso haver Teologia na Espiritualidade.

Precisamos de uma Teologia Espiritual.

Carecemos de uma Espiritualidade teológica.

Eugene Peterson, sobre isso, dirá o seguinte: "Os termos "teologia" e "espiritual" formam um ótimo par. "Teologia" é a atenção que dedicamos a Deus, nossa tentativa de conhecê-lo conforme é revelado nas Sagradas Escrituras e em Jesus Cristo. O adjetivo "espiritual" se refere à insistência de que toda revelação de Deus sobre si mesmo e suas obras pode ser vivida por homens e mulheres comuns em seus lares e locais de trabalho. O "espiritual" impede que a "teologia" se deteriore num simples e distante exercício de pensar, falar e escrever sobre Deus. A "teologia" evita que o "espiritual" se torne apenas a atividade emocional de pensar, falar e escrever sobre sentimentos e ideias individuais de Deus. Uma palavra necessita da outra, pois sabemos como é fácil desassociar o estudo sobre Deus (teologia) da maneira como vivemos; também sabemos como é fácil desvincular nosso desejo de viver com plenitude e satisfação (vida espiritual) daquilo que Deus é, de fato, e das maneiras como ele opera entre nós".

Nada mais esclarecedor do que essas palavras ditas pelo saudoso Eugene Peterson.

Por uma Teologia Espiritual!

Por uma Espiritualidade Teológica!

Essa é a união idealmente perfeita.