quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2020 - O Ano da Dor

 


Não vos comove isto a todos vós que passais pelo caminho? Atendei, e vede, se há dor como a minha dor (...)

Lm 1.12

Desde a queda do Homem (a utilização do substantivo aqui é puramente metonímica) a dor passou a agenda humana e nunca mais desvizinhou-se. A dor desarticula, põe tudo pelo avesso, instala o império do gemido, da tristeza onde a grande rainha se assenta em seu trono de lágrimas: a angustia.

Francisco Otaviano, em seu pensamento dolorosamente poético, capitou a presença da dor, dizendo: "Quem passou pela vida em brancas nuvens e num plácido repouso adormeceu; quem passou pela vida e não sofreu, não foi homem, foi expectoro de homem, porque só passou pela vida e não viveu".

2020 foi justamente assim!

2020 é marcado por lágrimas (a única linguagem que não precisa de interpretação) lamentações (...) a dor pulsa. 

A dor esteve presente nos telejornais, nas rodas de conversas informais, nas filas dos mercantis, na caminhada matinal e noturna. A dor esteve estampada nos muros, nos cartazes pregados, nas paradas de ônibus, nos coletivos lotados - a dor estava estampada no rosto do idoso como nunca antes esteve.

A dor esteve presente nos bares, nas vielas, nos becos, nas ruas...

A dor esteve presente, intensivamente nas garotas de programa - garotas andando pelas ruas em busca de um alimento que só encontraram nas mãos dos tarados e frustrados de uma sociedade hipocritamente sangrenta. Sim! Essas meninas violentadas por uns "trocados" sentiram dores inimagináveis em 2020.

Mas não se engane, nas casas luxuosas, entre gente de posse também houve muita dor. A dor que o dinheiro não pode aplacar, que o carro luxuoso, com todo o seu conforto, não pode aliviar.

Entre os pobres há muita dor - 2020 foi doloroso para aqueles que baixa economia, de poucos recursos. A vida não tem sido fácil para essa classe.

2020 - O ano da dor.

O ano em que um vírus espalhou-se por todos os continentes do planeta. Sim! o grande protagonista de 2020 foi o corona vírus - Covid 19.

O corona vírus - covid 19, só aqui no Brasil, neste exato momento, enquanto muitos estão soltando fogos, já levou (devido as suas complicações) 193.875 pessoas. 

São 193.875 lágrimas elevadas ao quadrado. 

A quantidade de pessoas que se foram, é a quantidade de pessoas que aqui ainda estão sentindo DORES! No mundo,1.810.360 mortos - uma verdadeira tragédia! Imensurável!

2020 - O ano da dor.  Não (...) 

Não pense que sou pessimista, não, não sou pessimista - sou realista.

Não há o que comemorar.

Não sou do tipo que fica imaginando uma vida que não existe - 

A existência implica situações reais.

Onde cabe um sorriso?!

A dor nivela a todos.

Não há ricos, pobres, negros, brancos, heteros, homos ou qualquer outra classe - 

A dor coloca todos no mesmo lugar.

Em 2020 a vida tornou-se menor.

O mundo encolheu.

A terra abiu a boca e guardou a muitos.

2020 deixou uma ata de registros emocionais impregnada da palavra luto. 

2020 foi um ano de últimos olhares para muitos (...) 

Últimas palavras, últimos sorrisos, últimos desejos de abraços. 

2020 - O ano da dor. O ano de encarceramentos físicos, emocionais, psicológicos...

O ano da palavra exprimida, da dor sentida, da pergunta dolorida, da lágrima abatida...

O ano dos encontros impedidos, dos abraços não acontecidos - 

...dos amores morridos.

2020 - O ano da dor.

O ano da Pandemia do corona vírus - Covid 19

Mas...

Em algum lugar deve haver um mundo diferente (...) um ano diferente.

Além do arco - íris...

Deve haver um lugar onde a dor não mais irá doer.

Onde as pessoas não irão mais morrer.

...é.

Eu estava quase esquecendo...

aproxima-se 2021.

Que haja mais flores do que espinhos.

Que haja menos guerras e mais carinho.

Que haja mais vida do que morte.

Que haja vida...

Vida...


Seja bem vindo, 2021.





quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

O Natal de Nicodemos




NICODEMOS INICIA O DIÁLOGO.

 - Importa que seja apenas nós dois: não quero que ninguém veja-nos, não quero que ninguém nos importune, não quero multidões ao nosso redor tentando arrancar alguma coisa de ti.

- Importa que seja apenas nós dois: Há coisas que preciso entender, palavras tuas que preciso absolver - há algo a mais ai quando tu falas.

- Importa que seja apenas nós dois: quero olhar nos teus olhos cheios de um amor que nunca vi, talvez ele preencha um vazio que há aqui, neste peito de um homem cujas letras dançam sem sentido.

- Importa que seja apenas nós dois: as letras cravadas nas tábuas de pedra apontam-me um caminho. Talvez as tuas palavras me coloquem nele.

- Importa que seja apenas nós dois: um lugar reservado...

- Importa, sim! Eu lhe peço, que seja apenas nós dois: há um Reino além daqui? Tu és um Homem vindo da parte de Deus! Tu sabes a resposta. Sim! Tu sabes! Ninguém faz as coisas que tu fazes sem que Deus esteja nisso tudo. Me fala então (...) arruma sossego para o meu coração e me diz: Há cura para a minha ilusão?!


O MESTRE RESPONDE:


- Nicodemos, Ah Nicodemos: estamos apenas nós dois.

- Nicodemos, para falarmos das coisas que tens ai guardado dentre de ti, temos que sair dessa dimensão religiosa e aprofundar - então, ai dentro desse mar, tu encontrarás a resposta.

- Nicodemos, sei o porque tu me perguntas desse jeito, entendo a tua procura pelo Reino, mas se queres saber mais do que o povo, então terás que NASCER DE NOVO.

- Terás que nascer de novo para ver, terás que nascer de novo para entrar.


NICODEMOS RECTRUCA:


- Como posso eu nascer de novo?! Voltarei ao ventre de minha mãe?


O MESTRE ACODE:


-Nicodemos, o que é daqui é daqui...

- Há um nascimento não daqui, mas do alto. 

- Não se admire que eu tenha dito: é necessário nascer de novo.

- É necessário nascer de novo.

- Que haja em ti, um nascer...

- Nascer do alto, Nicodemos.


XX



Só há Natal no encontro.


Um Natal de Paz à Todos!

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O Natal de Pedro

 


Quando falei de nosso Senhor para vocês, de como ele chegou até nós, acredite, eu não estava falando uma fábula e nem o que falei foi baseado em uma fábula pois, eu mesmo o vi com meus próprios olhos - vi o quanto ele é majestoso. Ele foi honrado pelo seu Pai que conosco falou dizendo que nele, a sua alma se alegrava. 

Eu posso testificar isso, sim! Eu estava naquele monte - monte santo - e não estava dormindo, nem delirando, mas vi com meus olhos. As profecias referiam-se à ele e as testifico porque o vi, andei com ele, as profecias são verdadeiras pois ele é verdadeiro.

A palavra dos antigos sobre ele é real e verdadeira, creiam vocês  como eu cri - atente para as palavras - elas serão como uma lâmpada que brilha em lugar escuro até que chegue o dia e ai então, nasça a Estrela da Alva no coração de cada um de vocês.


Parafraseando 2Pe 1.16-19


quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Teologia & Espiritualidade

 


E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviastes

Jo 17.3

Teologia e Espiritualidade não são antagônicas, pelo contrário, se compenetram, coexistem - é impossível desassociá-las.

Jesus, em sua oração sacerdotal, pede ao Pai, em favor de seus discípulos, que eles possam conhecer (ginṓskōa Deus e a ele mesmo, Jesus. Esse conhecimento é, além de ser um conhecimento intelectual, cognitivo, é também e até mais, experimental

Os estudos teológicos nos levam à esse conhecimento intelectual (Teologia) e a experiência, a vida com Deus - a prática da vida com Deus no dia a dia, nos conduz a espiritualidade.

Aqui, Teologia e Espiritualidade se fundem. 

Gostaria de deixar aqui o conceito de Teologia, mas antes, gostaria de dizer o que a Teologia não é, usando as palavras sábias de Rubem Alves: "Teologia não é uma rede que se teça para apanhar Deus em suas malhas, porque Deus não é peixe, mas vento que não se pode segurar".

Gosto do Rubem Alves porque ele vai direto ao ponto.

Não estudamos Teologia para dissecar Deus.

Não estudamos Teologia para explicar Deus.

Não estudamos Teologia para entender Deus.

Estudamos Teologia porque estamos em uma intensa relação com Deus que perpassa as fronteiras da percepção e nos conduz a procurar os rastros que ele, quando passa, deixa pelo caminho.

É isso.

De tantos conceitos sobre Teologia, particularmente gosto da proposta do Karl Rahner: "A Teologia é a Ciência da Fé. É a explanação e a explicação consciente e metódica da revelação Divina, recebida e compreendida pela fé"

Recebida e compreendida pela .

O detalhe curioso e interessante aqui é: o Teólogo é aquele que se debruça sobre a revelação Divina.

Nós só podemos caminhar em direção a Deus se ele revelar-se a nós, caso contrário, conhecê-lo seria impossível.

Sobre Espiritualidade podemos dizer que é algo além da religião. A religião é uma herança recebida através da família que ensina e educa em um determinado caminho religioso. A religião tem mais cultura que espiritualidade, tem mais de expressão humana, visual e concreta que elementos transcendentes. Isso não significa que na espiritualidade não haja religião como símbolo celebrativo, mas significa que a espiritualidade da o "animus" a religião.

A Espiritualidade nos leva para um campo aberto. Quando a revelação chega e a compreendemos - as escamas caem dos nossos olhos. A Vida ganha outros contornos. Após a revelação, vem a peregrinação - saímos em busca de Deus e de seus passos. 

É justamente por causa disso que digo e afirmo: Teologia e Espiritualidade andam juntas!

O Teólogo é aquele que ora para compreender a revelação.

O Teólogo é aquele que se debruça sobre a revelação.

O Teólogo é aquele que se encanta após a compreensão da revelação.

O Teólogo é aquele que se rende ao único Deus verdadeiro.

O Teólogo é aquele que presa por uma Teologia Espiritual.

É preciso haver espiritualidade na Teologia.

É preciso haver Teologia na Espiritualidade.

Precisamos de uma Teologia Espiritual.

Carecemos de uma Espiritualidade teológica.

Eugene Peterson, sobre isso, dirá o seguinte: "Os termos "teologia" e "espiritual" formam um ótimo par. "Teologia" é a atenção que dedicamos a Deus, nossa tentativa de conhecê-lo conforme é revelado nas Sagradas Escrituras e em Jesus Cristo. O adjetivo "espiritual" se refere à insistência de que toda revelação de Deus sobre si mesmo e suas obras pode ser vivida por homens e mulheres comuns em seus lares e locais de trabalho. O "espiritual" impede que a "teologia" se deteriore num simples e distante exercício de pensar, falar e escrever sobre Deus. A "teologia" evita que o "espiritual" se torne apenas a atividade emocional de pensar, falar e escrever sobre sentimentos e ideias individuais de Deus. Uma palavra necessita da outra, pois sabemos como é fácil desassociar o estudo sobre Deus (teologia) da maneira como vivemos; também sabemos como é fácil desvincular nosso desejo de viver com plenitude e satisfação (vida espiritual) daquilo que Deus é, de fato, e das maneiras como ele opera entre nós".

Nada mais esclarecedor do que essas palavras ditas pelo saudoso Eugene Peterson.

Por uma Teologia Espiritual!

Por uma Espiritualidade Teológica!

Essa é a união idealmente perfeita.









quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O "Tolo".



 "O sábio é cauteloso e desvia-se do mal, mas o Tolo encoleriza-se e dar-se por seguro"

Provérbios 14.16


Há palavras bíblicas que são cheias de significados, mas nós não as conhecendo bem, ousamos em proferi-las sem saber ao certo o que estamos dizendo. As vezes, sem saber, nos enquadramos na própria palavra que estamos proferindo.

As palavras "Sábio" e "Tolo" por exemplo, estão espalhadas por todo o livro de provérbios que muitas vezes lemos e não entendemos. Hoje quero falar-lhes sobre a Palavra "Tolo".

A Palavra "Tolo" no Hebraico é "כְּסִיל" e significa "Tonto, bobo, estúpido".

Uma pessoa "Tola" é uma pessoa Tonta - vive embriagada consigo mesma, que se fecha em si mesma. É uma pessoa boba, mas não boba por inocência; boba no sentido de arrogante, como quem tem domínio de tudo ao seu redor sendo que tal pessoa não possui o domínio de tudo e muitas vezes diante do "mal", sucumbi. É estupida porque o estupido não aceita conselhos, não possui visão dilatada, ampla da vida e acaba se prejudicando pelo simples fato de teimar em seguir quando deveria párar.

A Palavra "Tolo" na língua grega  é "mōrós " e significa "estupido, idiota".

Uma pessoa "idiota" é uma pessoa pessoa fechada em si mesma - não aberta à outras opiniões - que se lacrou e por isso se imbecilizou

Certamente são palavras fortes e reflexivamente penetradoras, mas pedagógicas - alertadoras e muito mais do que alertadoras - sinalizadoras.

O texto do livro de provérbios diz-nos que o "Tolo" (...) dar-se por seguro". O "Tolo" dar-se por seguro diante do mal, ao contrário do sábio que, diante do mal, é cauteloso.

O sábio cauteloso vê o mal e pára.

O Tolo arrogante, sentindo-se seguro, enraivece-se e enfrenta.

A vida real exige sabedoria.

O mundo em que vivemos é um mundo cheio de armadilhas - de sutis armadilhas. Se formos sábios escaparemos, se formos Tolos, enfrentaremos um mal do qual não conhecemos e não nos preparamos para enfrentar.

A razão é uma boa aliada para conter o avanço do mal e lhe livrar de ser um "Tolo". A estupidez, junto com a impulsividade podem levar-nos a um mal do qual não saberemos lidar.

Qual caminho deveríamos seguir: do sábio ou do tolo?

Nossas ações sinalizarão o caminho e as consequências pintarão o quadro.

Podemos em algum momento sermos "Tolos" sim, mas podemos revisar tudo e sair fortalecidos de uma atitude impensada, mal administrada, alcançando assim experiência, conhecimento, saber e quem sabe, com a Graça de Deus, um pouco de sabedoria.

Pensemos nisso.



quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Qual é o Teu nome? : Uma Leitura psicoespiritual do possesso de Gadara.

 


E perguntou-lhe: qual é o teu nome? Respondeu ele: legião é o meu nome, porque somos muitos.

Mc 5.9 

Em  gadara não havia apenas uma pessoa possessa, através de uma leitura mais próxima dessa narrativa, descobre-se que na verdade, na verdade, toda aquela Cidade de alguma forma era possessa. No entanto não vou me fixar nisto. Quero observar a fala do possesso de gadara.

Jesus pergunta àquele espirito imundo que havia se apossado da vida daquele rapaz: "Qual o teu nome? e o espirito imundo, através da boca daquele rapaz, responde: legião é o meu nome, porque somos muitos"

Aquele rapaz não nasceu possesso (...) ele não nasceu "muitos". Aquele rapaz nasceu único - nasceu ele mesmo sem mais nenhum "outros" dele, mas agora ele se encontra com muitos dentro de si mesmo.

"...somos muitos". Disse o espirito imundo.

Primeiro ele diz que seu nome é "Legião" e dizendo isto, ele está extremamente familiarizado com a linguagem militar romana, pois a palavra grega para legião é  λεγεών  propriamente, uma divisão do exército romano, numerando cerca de 6.000 infantaria com cavalaria adicional; portanto, um número muito grande. Certamente eram muitos os que habitavam e manietavam aquele rapaz.

O fato é que um "ser" único habitado por "somos muitos" gera escravidão, solidão e falta de identidade. Antes, em um período não determinado pelo texto bíblico, aquele rapaz era apenas um, era único, apenas ele mesmo e por isso nele havia uma identidade. Contudo, vindo a possessão, ele deixou de ser único e tornou-se muitos - muitos que não ele, mas outros que se instalaram nele.

"Somos muitos" é linguagem de gente que está sendo habitada por "legião". Claro que aqui fica um adendo: dependendo do contexto em que se está falando.

Cada ser é um ser único.

Tal declaração fica explicita quando Jesus chega a cidade, na região de Gadara e liberta aquele rapaz do "somos muitos". É isso mesmo! Jesus deixa claro, tanto para os espíritos imundos, quanto para aquele rapaz e estende-se à toda aquela região, que nenhum ser humano nasceu para ser muitos! Cada um nasceu para ser único! Cada um nasceu para ser o que se é. 

Ser muitos não é saudável!

Ser único é saudável.

Qualquer um que se apresentar "sendo muitos" deve ter bastante cuidado com o "muitos" que é, uma vez que se nasceu apenas um.

Aquele rapaz da região de Gadara era único que se tornou "muitos" e esse "muitos" em que ele se tornou, transformou-se no centro humorístico da Cidade. Ora, muitos vinham ver aquele que era "muitos" e divertiam-se com isso. No entanto, Jesus não achava isso nada divertido e libertou aquele rapaz do "somos muitos" fazendo com que ele voltasse a ser apenas ele mesmo: curado, restabelecido, saudável como um dia tinha sido.

Eu não sou "muitos".

Nós não "somos muitos".




quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Oração Contemplativa



"Não obstante, amais a sinceridade de coração (...)"

Sl 51.6


Ama a sinceridade aquele que houve um coração sincero.

Aquele que ouve a oração, ama.

Aquele que ouve a oração, ama a sinceridade.

Aquele que ouve a oração, ama o interior que fala francamente.

Diante daquele que ama a sinceridade do coração, fale somente o que for franco.

Diálogos francos.

Nada de repetições, fruto de coisa arranjada (...) uma ilusão que fala muito e não diz absolutamente nada!

Falas abertamente.

Sendo tu mesmo e não um outro que em ti fala, mas não de ti que fala.

Se dizes em oração francamente, Ele francamente ouvirá.

Se usas personagens para falar, nada dirás e se nada dizes, tua oração foi em vão.

Aproxima-te...

Naquele silencio intimo.

Sem fingimento.

Sem meias-palavras.

Sem a vergonha que atrapalha.

Ele já sabe...

Que seja a tua oração.

...e o coração sincero.

Deus detesta a duplicidade.

Ele não é dúplice...

É tri -Uno...

Seja um com ele quando quando ele estiver dialogando.

Não precisas de exibição.

Não precisa ser público...

Não precisas mostrar que és piedoso.

Sinceridade do coração.

E o coração? O que é?

O centro em nós?

Um pendulo?

Em que ele está empenhado?

Ele que é o núcleo da consciência, o nascedouro dos desejos, intenções e decisões.

Quem te conhecerá?

Cria entre ti e Deus uma relação sincera.

Sem mentir...

Há apenas um lugar em que você não pode ser outro alguém: diante do espelho do teu interior que reflete a imagem do rosto que olha diretamente para dentro dele.

Despe tuas vestes...

Entras nu...

Deus é aquele imenso oceano...

Lá, o teu barco com velas alçadas poderá navegar tranquilo.

O Senhor no barco traz tranquilidade.

O mar, as vezes, se agita.

Que se agite então.

Deus quer a sinceridade do coração.

Onde está aquela que paz peregrina que demora chegar?

Ela vem de viagem pelo mar.

Não é que não conseguimos ver...

Não conseguimos ser.

Entra no quarto.

Ele está por detrás da porta.

Assenta-te.

Ora.

...ele te responderá.





quinta-feira, 8 de outubro de 2020

O Logos Heracliano

 


De todas as ideias e ensinos de Heráclito desejo fazer uma abordagem do logos que é extremamente intrigante e desafiador. É uma tarefa nada fácil essa de entender o logos na mentalidade de Heráclito, pois seu pensamento é meio obscuro. No entanto vamos tentar conceituá-lo com a ajuda de alguns pensadores.

* Heidegger.

Quanto a Heráclito, Heidegger opina que talvez seja o que ele pensa sobre o logos, o que há de mais obscuro no seu pensamento já tido desde a Antiguidade como obscuro. Para Heidegger o sentido originário do logos foi esquecido sendo substituído pelo que os gregos desde cedo compreenderam por dizer, discursar, falar sobre. Mas para ele logos esse não seria o sentido originário. No pensamento grego em Platão e Aristóteles, o perdeu a sua conexão íntima com a physis, natureza; a partir daí tornou-se proposição, isto é, um dizer sobre algo. Mas mesmo antes de Platão e Aristóteles já existia a noção de Logos. Desde o seu nascimento o conceito lógos esteve atrelado ao conceito leigen significando assim, dizer, falar.

Essa relação entre logos e leigen fez com que o logos perdesse o seu sentido original. Heidegger busca a significação originária da palavra logos que logo implica em ir também em busca da originaridade da palavra leigen. Antes de qualquer definição que se relacione com a ordem da linguagem, leigen tem um sentido primeiro que podemos encontrar em Lesen alemão: Colher (lesen) recolher (sammeln). Sendo assim o sentido primeiro de logos é colheita. O Logos vem de leigen que significa contar, dizer, mas também “reunir, escolher, recolher”. Podemos concluir que as expressões palavra e dizer carregam o mesmo sentido de colher: Leigen.

A percepção do homem nessa coletividade que abriga e recolhe se dá em silencia. O silenciamento do ser possibilita nomear a palavra originária da qual fala a linguagem. Somente o leigen, enquanto coleta recolhida do silêncio é possível em si mesmo, isto é, enquanto palavra originaria. Toda relação estabelecida pelo ser humano em fase dos entes, de outros seres humanos e deuses, afirma Heidegger, reside na possibilidade do silêncio. O logos não é palavra, mas é mais originário que a palavra e é ao mesmo tempo a palavra preparadora de toda linguagem.

A palavra logos é o silêncio da quietude que só se quebra quando a palavra tiver de ser, pois é para esse silêncio que vigora a essência da palavra. Nesse sentido um dos caminhos de acesso ao logos originário, segundo Heidegger, é a escuta. Para o filosofo alemão, a escuta obediente necessita de um recolher-se ao apelo da fala, a fala mais profunda e silenciosa do sentido do ser, manifestada pelo logos

* Donaldo Schuler

Logos designa muita coisa. Homero emprega o verbo lego, da mesma raiz de Logos, para o processo de recolher alimentos, armas e ossos, para reunir homens. Cada uma dessas operações implica comportamento criterioso; não se reúnem armas, por exemplo, sem as distinguir de outros objetos. Logos significa reunir determinadas coisas debaixo de certos critérios. Armas misturadas com ossos sem nenhum critério não formariam logos, provocariam sentimento de desordem, caos. Logos corresponde, portanto, ao com-um, não de palavras apenas, mas também de seres. Logos não se restringe, entretanto, à ordenação dos seres, ele estende vínculos, com o mesmo vigor em palavras. Surge assim o discurso verbal. Sem logos não há discurso: há, quando muito, amontoado caótico de palavras. (Schuler, Donaldo, 1932. Heráclito e seu (dis)curso. Porto Alegre: L&PM Pocket / p.17 e 18).

* Dr. Jorge Pinheiro (Doutor em Ciências da Religião).

O logos de Heráclito é o “princípio supremo de unificação, portador do ritmo, da justiça e da harmonia que regem o universo”. Heráclito considerou o logos dotado de dois princípios internos contrário a operar antropomorficamente guerra e paz (discórdia e concórdia). Portanto o logos concebido por Heráclito como uma lei natural ordenadora, a tudo comanda em forma dialética. Assim para a filosofia grega, logos era o principio da inteligibilidade da razão. O conceito razão relaciona-se a três outros: essência, existência e essencialização. A essência não é apenas aquilo que uma coisa é, mas também aquilo que faz com que uma coisa possa ser. O Logos é a origem da razão e também do ser.

O logos e a Divindade

Nos fragmentos, Heráclito atribui ao logos outros nomes. Assim no fragmento 64, o logos é chamado de keraínos, que significa: raio, relâmpago. Já vimos que é sob os clarões efêmeros dos relâmpagos, que o raio libera o que brilha para a sua aparição. Esse brilho tem o fulgor dos relâmpagos. Sendo assim, na medida em que as coisas são desveladas, elas são conduzidas para seu destino, ou seja, para a morada de sua essência. Heráclito exprime isso quando afirma no fragmento 64 “que o raio governa todas as coisas”. O “raio” (keraínos) pode ser considerado um outro nome do logos. Que o raio seja visto como divino, não é de estranhar, porquanto, para Heráclito, o fogo é a arché originária de todas as coisas. Nas metamorfoses do fogo há uma presença imanente do Divino. Esta imanência que se transcende e esta transcendência que é imanente tornam muito ambíguo o sentido que o Divino tem para Heráclito.

Imanente, ele reúne em si todos os contrários. 

Por ventura, um certo João, chamado o Teólogo e discipulado amado, não começou seu relato sobre o Cristo falando: "No Principio era o Verbo (Logos)".

 



Heráclito de Éfeso

 



Heráclito nasceu aproximadamente no ano 544 a.C em Éfeso, na Jônia, hoje, atual Turquia. Heráclito era altivo e melancólico e constantemente desprezava a plebe. Sempre procurou não se meter na política e além disso tinha desprezo também pelos antigos poetas, pelos filósofos de seu tempo e até pela religião. Mesmo assim foi considerado por muitos o mais eminente pensador pré-socrático, pois buscava compreender a multiplicidade do real. Ele não rejeitava as contradições da realidade, mas procurava aprender a realidade na sua mudança.

Heráclito escreveu um livro intitulado sobre a natureza e chegaram até nós numerosos fragmentos em forma de aforismos e intencionalmente elaborados de um jeito obscuro. Aliás, Heráclito criou uma linguagem ambígua e de multissignificados e fez isso com a intenção de evitar a depreciação e desilusão daqueles que, lendo coisas aparentemente fáceis, acreditam entender aquilo que, não entendem. Foi justamente por isso que ele era conhecido como “Heráclito, o Obscuro”. Ele conseguia manter-se no anonimato, mesmo quando falava claramente. Donaldo Schuler falou o seguinte a respeito de compreender e traduzir Heráclito: “Traduzir Heráclito é entrar num jogo em que as imagens se multiplicam, jogo de ondas, efêmeras, vivas”. (Schuler,Donaldo 1932 Heráclito e seu (dis) curso/ Donaldo Schuler—Porto Alegre: L&M, 2000 (Coleção L&M Pochet) p. 12).

Isso revela o quão misteriosa e complexa eram as palavras de Heráclito. Tanto Heráclito quanto os outros filósofos pré-socráticos estavam interessados em fundamentar a origem do mundo e a transformação da natureza.

Certa vez pediram para que Heráclito elaborasse suas leis, mas ele desdenhou o pedido por que a cidade estava dominada por um mau regime político. Retirado no templo de Ártemis, divertia-se em jogar com as crianças e quando os efésios ficaram a sua volta admirando-se dele, então eles lhes perguntou: “De que vos admirais perversos?”. Que é melhor: fazer isso ou administrar a república convosco?”.

Heráclito tornou-se um Misantropo e passou a viver nas montanhas alimentando-se de plantas e ervas. Ele foi acometido de hidropisia e passou a andar na cidade perguntando aos médicos se podia fazer um aguaceiro uma seca; como os médicos não o compreenderam foi enterrar-se num estábulo e esperou que a água fosse evaporada pelo calor do estrume e como não lhe veio nem um resultado, assim findou sua vida aos sessenta anos.

 Principais ideias Heraclianas.

 

  • A doutrina do fluxo – A unidade (arché) do mundo consiste em uma eterna mudança. Todas as coisas mudam sem cessar. Heráclito afirmava que nunca nos banhamos no mesmo rio.
  • A supremacia do elemento fogo- Heráclito privilegia o fogo, adotando esse elemento como símbolo de sua filosofia: pelo fogo tudo se transforma. O fogo é o símbolo da eterna agitação de devir.
  • A doutrina da ordem subjacente ao mundo – Por detrás da ordem aparente existe uma harmonia oculta. O Logos rege essa harmonia superior. 

Alguns filósofos comentaram as idéias e os ensinamentos de Heráclito e dentre eles está:

 

* Aristóteles.

 

Convém absolutamente que o que se escreve seja fácil de ler e compreender, o que é a mesma coisa. Pontuar os escritos de Heráclito é um trabalho, por ser incerto se tal pontuação se liga a uma palavra anterior ou posterior como no começo do seu escrito: “Deste  logos...tenham ouvido”. (Pré-socráticos I p. 49)

 

* Platão.

 

Heráclito diz em alguma passagem que todas as coisas se movem e nada permanece imóvel. E, ao comparar os seres com uma corrente de um rio, afirma que não poderia entrar duas vezes num mesmo rio. Heráclito retira do universo a tranqüilidade e a estabilidade, pois isso é próprio dos mortos; e atribuía movimento a todos os seres, eterno aos eternos, perecíveis aos perecíveis. (Pré-socráticos I p.49)

 


* Sócrates.

 

O que ainda nos sobrou de Heráclito é excelente; daquilo que foi perdido para nós, podemos conjeturar que foi da mesma excelente qualidade. Ou se quisermos ter o destino por tão justo que sempre conserva, para os pósteros, o melhor, então devemos ao menos dizer que aquilo que nos foi transmitido de Heráclito valeu sua conservação. (Pré-socráticos I p.74)

 

* Nietzsche.

 

No meio da noite mística em que estava envolto o problema do vir-a-ser, de Anaximandro, veio Heráclito de Éfeso e iluminou-a com um relâmpago divino. Heráclito era orgulhoso: e quando, em um filosofo, há orgulho, é um grande orgulho. Sua atuação nunca o aponta a um “público”, à aprovação das massas e ao coro do aclamador dos contemporâneos. Traçar solitariamente o caminho é próprio da essência do filosofo. (Pré-socráticos I p. 74 e 81). 


 

 

 


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Amargura e suas raízes

 


"...para que, entre vós, não haja homem, nem mulher, nem família, nem tribo cujo coração, hoje, se desvie do Senhor, nosso Deus, e vá servir aos deuses destas nações; para que não haja entre vós raiz que produza erva venenosa e amarganinguém que, ouvindo as palavras desta maldição, se abençoe no seu íntimo, dizendo: Terei paz, ainda que ande na perversidade do meu coração, para acrescentar à sede a bebedice".

Deut 29.18,19

"Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados; nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado".

Hb 12.14-17


Alinhe os textos.

Observe a imagem que se desenha em sua mente.

Há um lado enormemente bom na exaustão dos estudos bíblicos: você ao estudar, descobre a verdade de certos termos utilizados, as vezes, fora do seu verdadeiro significado.

Os dois textos estão falando de um mesmo assunto. No entanto, um esclarece o outro. Um é a fonte para a compreensão do outro.

Por ventura você já experimentou ler os textos bíblicos e consequentemente seus temas a luz da própria bíblia? Já experimentou transitar entre as páginas das Escrituras e deixar de ser levado por gurus?

Os textos falam sobre a raiz de amargura.

O que é a raiz de amargura?

De onde vem a ideia do sentido de raiz de amargura?

O livro de deuteronômio fala sobre a raiz que produz erva venenosa e amaga.

O que patrocina a  a produção da raiz venenosa e amarga?

O texto responde: um coração que se desvia do Senhor cobiçando os deuses de outras nações ou adorando os deuses de outras nações. O texto de deuteronômio, ainda dirá o seguinte: Ninguém que abandone o Senhor, indo atrás de outros deuses (possibilidades que não seja ele) diga em seu coração que terá paz e que será feliz!

É o que está escrito, não?

O texto da epistola aos hebreus vai dizer que a raiz de amargura (o desvio do Senhor indo atrás de outras possibilidades que não seja ele) é contagioso!

Não deixe que ninguém lhe engane!

Vida é só no Senhor!

Existência pode ser em qualquer lugar.

Vida, Vida mesmo, só no Senhor!

Vivemos dias em que escutamos constantemente as pessoas dizerem que querem viver suas vidas, mas a Escritura nos afirma que Vida só se vive no Senhor!

Qualquer tentativa de felicidade fora da Felicidade que há no Senhor, é apenas um Paliativo, passa tempo, fingir que está tudo bem, dar satisfação social, colocar uma máscara de alegria quando na verdade se está triste!

Em Deuteronômio, Moisés diz que, ninguém diga que é realizado sem estar no Senhor e ninguém diga que fazendo o mau, estará feliz pois isto é engano!

O autor aos Hebreus vai dizer que esse tipo de engano é contagioso.

Quem anda com pessoas assim, acaba se contaminando com a raiz de amargura.

A raiz de amargura vem de uma erva venenosa e se instala no interior daqueles que acreditam que é melhor viver sem ser debaixo das Asas do Pai.

Há um sistema no mundo e ele é perverso.

Há uma nova torre de babel sendo construída e sua intenção é ferir os Céus!

Há uma sociedade, no escuro, fabricando um novo bezerro de ouro.

Há uma morte se vestindo de vida.

Há um amor vestido de anzol.

Há braços que escondem redes.

Não se engane...

Você não terá paz, se o Senhor não for a tua paz.

Para aonde estão lhe levando?

Quais conselhos você escuta?

Disso dependerá a sua sobrevivência.



J.R.S

Escrito na pandemia de 2020



sábado, 19 de setembro de 2020

A amizade no Contexto Filosófico

 


Sartre dizia que: "o inferno são os outros". mas Vinicius de Morais dizia que: "inferno é a ausência do outro".

Pura contradição. 

Tudo indica que para Sartre o outro era inferno quando tornava-se instrumento de perturbação, de agonia, de inquietação. Para Vinicius, o inferno era ausência do outro no sentido em que o encontro com o outro fosse produtivo e construísse amizades. O poeta Mário Quintana dizia que a amizade é um amor que nunca morre. Para a filosofia, a amizade pode nos ajudar a melhorar o endereço existencial, ou seja, a possibilidade que temos de melhorar as condições históricas de nossa existência. O momento histórico em que vivemos é muito propicio falarmos sobre amizades visto que vivemos num momento meio que cibernéticos onde a amizade relacional passou a ser a amizade virtual. A amizade como tema de discursão filosófica cabe bem na reflexão de Aristóteles que dizia: “A amizade pode ajudar os jovens a evitar o erro, auxilia os mais velhos na medida em que serão amparados em suas necessidades e os que estão em pleno vigor da idade”. Para Aristóteles, amigos são pessoas que andam juntas e por isso são mais capazes de pensar e agir juntas.

         O que torna a leitura desse tema tão significativo, a partir de Aristóteles são as três definições que ele apresenta sobre amizade. Para o filosofo Aristóteles o primeiro tipo de amizade é a amizade útil. São aqueles que fundamentam a amizade no interesse, amam-se por causa da utilidade que o outro tem. Este tipo de amizade ocorre principalmente entre os mais velhos. Segundo tipo de amizade é a amizade agradável. É justamente a amizade que produz conforto e faz bem, mas corre o risco de tornar-se interesseira. Terceiro tipo de amizade é a amizade ideal. É aquela que existe entre os homens que são bons e semelhantes na virtude, pois tais pessoas desejam o bem um no outro de modo idêntico, e são bons em si mesmos. Uma amizade desta natureza requer tempo e prática. Um desejo de amizade pode até surgir depressa, porém a amizade não. Considerando os fatos expostos, pode-se dizer que a amizade é um conceito aplicável a todas as formas de relações sociais. Segundo Aristóteles a amizade é mais importante do que a justiça. Ele diz que: “Quando os homens são amigos não necessitam da justiça ao passo que mesmo os homens justos necessitam de amizades; e considera-se que a mais autêntica forma de justiça é uma espécie de amizade. Para Aristóteles, o sumo bem é a ideia de felicidade, e ela para ser alcançada, necessita da ajuda de amigos virtuosos. Diante disso tudo o fato é que se nós nos esforçarmos em nossos encontros, a tendência é que serão momentos, fortalecimento de laços e amizades e, além disso, construiremos pontes de relacionamentos saudáveis. Para que a amizade seja saudável é necessário que o outro que está chegando me edifique e assim eu também o edifique. Na opinião da filosofa Maria Lúcia de Arruda Aranha, “Talvez não seja muito fácil encontrar verdadeiros amigos. Mas quando o temos vale a pena cultivá-los”.

         O filosofo brasileiro Leonardo Boff diz que a estrutura central do ser humano não é a razão e sim o afeto. Partindo desse pressuposto, pode-se então perceber que a amizade ocupa um lugar de destaque, sendo um dos principais bens que são necessários para a boa sociabilidade. Portanto, a existência do nosso encontro com o outro é uma excelente oportunidade para que possamos cultivar esse que é um dos maiores  bens, nossa amizade.

 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

O Coração despedaçado de Deus





"Porque Deus amou..."
                                   Jo 3.16

"Se um Deus fez este mundo, eu não gostaria de ser esse Deus: a miséria do mundo esfacelar - me-ia o coração". 

                                                                                                                                           SCHOPENHAUER

Não há como ler os Evangelhos e não pausar no texto do Evangelho segundo escreveu João, no capitulo três e verso dezesseis. Também, não há como pausar sem meditar, sem pensar a respeito de tais palavras ditas por Jesus. Ele simplesmente diz: "Deus amou...". E já é muito para se pensar.

Talvez, uma das frases mais comuns nos dias atuais e é, sem dúvidas dos dias antigos também, seja: "Amar é sofrer".

Olhando o texto de João, especificamente nesta frase de Jesus, estou tentando captar a essência do texto, sim! Tentando captar a essência do texto. A revelação está nele. Sem o texto não há revelação escrita. Por isso, não posso desprezá-lo. Se eu desprezar o texto e não olhá-lo com respeito e carinho - se eu não olhar as suas curvas - Há poesia sacrificial no texto. Vocês não veem?! Ou eu olho o texto com carinho ou simplesmente estou usando o texto não para transmitir uma mensagem Divina, mas para lançar uma ideia minha, criada nos porões do meu desejo.

Leia o texto do Evangelho de João, capitulo três e verso dezesseis com calma.
Leu?!
Vai lá.

Sentiu o texto?!
Depois que leu, fechou os olhos por uns dez minutos e voltou a lê-lo?! É a mesma leitura?! Ainda não sentiu nada?! Não viu nada?!

Se você não sentiu e nem viu nada no texto, desculpe-me, mas está claro que você não leu o texto e sim, apenas passou os olhos sobre ele.

Ler não é apenas juntar palavras.
Entende?!

"Deus amou...". Disse Jesus.

Há um texto do filosofo Arthur Schopenhauer, que eu citei logo a baixo do texto bíblico que, ao que me parece, retrata um sentimento.

As pessoas falam que Deus é Amor.
As pessoas falam que Deus está de braços abertos esperando os piores pecadores.
As pessoas falam que Deus é perdoador.
As pessoas falam que Deus entende a todo aquele que dele se aproxima.
As pessoas falam que Deus está pronto a realizar os seus sonhos.
As pessoas falam que Deus lhes fará felizes.
As pessoas falam...
As pessoas...
As...
...

Alguém já se prontificou a falar sobre o CORAÇÃO DESPEDAÇADO DE DEUS?
Alguém já se prontificou a falar o quanto doeu entregar o seu próprio Filho?!
Você entregaria o seu?!

Você já parou para pensar o que Deus sentiu?! Ou Você está tão entusiasmado com os resultados da Cruz que esqueceu que isso doeu nele, no Pai?

Você  acredita mesmo que isso não será relembrado no dia em que todos estiverem diante dele?
Ignorar a dor de Deus é virar as costas para o que ele sentiu.
Você já falou sobre o coração despedaçado de Deus?
Ou você só pensa na Cruz como um Triunfo?!
Você só fala dos benefícios e não fala da dor? Por quê? 

Schopenhauer disse e disse mais do que alguns que se dizem cristão: ""Se um Deus fez este mundo, eu não gostaria de ser esse Deus: a miséria do mundo esfacelar - me-ia o coração". 

Schopenhauer, olhou, mesmo sendo Ateu e disse: "Caramba! Que mundo mal! Que ser humano perverso! Que gente ingrata - eu não queria ser o Deus que criou o mundo, isso me partiria o coração".

Exagero do Schopenhauer?

As dores do mundo doem em Deus.
As misérias humanas doem em Deus.
A arrogância da Igreja sobre os que dela não fazem parte, doe em Deus.

Você ignora isto?!

Em Deus, tudo doí.

Olhem o mundo (...)
Quanta idolatria!
Não seja bobo, não estou a falar das frágeis imagens!
Olhem o mundo!
Quanta rebeldia!
Andem nas ruas (...)
Deixem os carros em casa (...)
Andem nas ruas!

Ouçam o que dizem.
Vejam o que fazem.

Em Deus tudo doí.
Porventura você já falou do coração despedaçado de Deus?!

Você acredita mesmo que a morte de seu Filho, seu Único Filho, não será lembrada naquele dia?! 
Olhe com delicadeza esse texto abaixo:

"Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas. Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição, Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação (...)"

Hebreus 2.1-3

Você tem coragem de falar sobre isso?!
Ou se esconde?!

Há um coração despedaçado na Cruz e não é o meu.
Há olhos lagrimejantes sobre a Cruz (...)

Você já falou sobre o coração despedaçado de Deus?
Já pensou em trocar, vez por outra o "Jesus te Ama" por, "O coração de Deus está despedaçado por sua causa! Ele teve que entregar seu próprio Filho".

Já pensou em vez por outra fazer essa troca?!

O coração de Deus está despedaçado.
...e o seu?!