sexta-feira, 28 de maio de 2021

Não devias tu, fazer o mesmo?

 


Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me devesEntão, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagareiEle, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de tiE, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.

Mt 18.28-35

Começo aqui, com uma frase de Jean Yves Leloup: "Perdoar alguém é não aprisioná-lo na prisão negativa de seus atos".

Da forma que recebemos, devemos repassar. 

A parábola do "servo malvado" nos coloca diante de nós mesmos como protagonistas da nossa história no que diz respeito as nossas ações, sejam elas boas ou más. 

O servo malvado, não tornou-se malvado: ele era malvado mesmo.

Todo aquele que ao receber um bem de Deus e, não o dispensa graciosamente, é malvado.

Aquele servo, mau saiu da presença do seu Senhor, perdoado, restaurado, revigorado - inteiro, logo encontra alguém que também lhe devia.

Somos todos devedores em algum aspecto.

A atitude do servo malvado, foi uma atitude malvada.

- Paga-me! O que me deves! Gritava ele.

Condenamos a atitude dele, mas a nossa, as vezes, chega a ser idêntica.

Nenhuma ofensa que recebermos será maior do que a ofensa que o nosso Senhor sofreu.

Não minimizo a dor da ferida de quem quer que seja - dor é dor e só sabe da dor quem a sente.

Feri muitas vezes!

Já fui injusto com tantos!

...é de consumir.

Fui ferido também...

Injustiçado inúmeras vezes. 

A dor que sinto por ter ferido é maior do que a dor que sinto em minhas feridas.

No entanto, o meu Senhor foi ferido gravemente. Ele foi insultado! Ignorado. Ele foi menosprezado e teve que entregar a sua vida para que a vida de muitos fossem perdoadas. Ele perdoou cada ofensa!

Não só perdoou, mas deixou livre!

O Senhor daquele servo malvado o mandou buscar e disse: "servo malvado! perdoei-te aquela divida toda porque me suplicastes, não devias tu fazer o mesmo?".

Não devias tu, fazer o mesmo?

Sim! É tu mesmo (...) não devias fazer o mesmo que teu Senhor te fez?

Servo malvado!

Essa expressão está a dias em meus ouvidos.

Servo malvado.

Quem é o servo malvado, senão aquele que pede perdão de suas ofensas à Deus, mas não perdoa a quem lhe ofendeu?

Perdoar não significa não encolerizar-se. Pelo contrário, encolerizar-se é clamar por justiça, por reparo - é exigir que a divida seja paga! O Senhor daquele servo malvado exigiu que ele pagasse a divida. Ora, ele não estava devendo? Sim! Claro que estava, mas ele não tinha como pagar.

O seu Senhor então o perdoou e o deixou ir.

Não podemos excluir o desejo de que a justiça seja feita, mas o final desse desejo é a misericórdia e o perdão.

Não estou dizendo que perdoar não dói. Dói sim! E dói muito! No entanto, o perdão aliviará as dores pois, quem não perdoa, sofre também. Quem não perdoa também fica aprisionado. Quem não perdoa acaba matando o ofensor e carregando o cadáver dele nas constas da consciência.

Perdoar é tornar a vida possível novamente. 

Olhar o ofensor com um olhar de Pedra, é jogar pedras nele.

Ao final da parábola, Jesus afirma: "Assim fará o meu Pai aqueles que do seu intimo, não perdoar a seu irmão".

É isso mesmo. O texto não deixa margem para debulhações.

Se não perdoarmos, não seremos perdoados.

Nosso perdão diante de Deus está vinculado ao nosso perdão aqueles que nos ofenderam terrível e vergonhosamente. 

Se não perdoamos seremos chamados de, servos malvados.

Seremos chamados de servos malvados porque um dia ofendemos também e fomos perdoados, agora, quando deveríamos fazer como a nós foi feito, não fazemos.

Este texto, não é um texto simples e nem muito menos fácil: é de arrepiar!

Mas é real.

É, palavra de Jesus, o nosso Senhor, para nós.

Quem Deus, em Cristo, nos ajude.


quinta-feira, 27 de maio de 2021

O servo malvado e o Perdão

 


A dias venho lutando com esse texto da parábola do credor incompassivo, que vou chamar de "servo malvado". Não é um texto fácil, mas é simples e objetivamente direto. 

O texto, inicia a estória em forma de parábola, por volta do versículo vinte e três do capitulo dezoito do Evangelho segundo escreveu Mateus, mas os diálogos que deram origem a parábola, iniciasse no verso primeiro do mesmo capítulo. Jesus está proferindo uma série de ensinos, quando Pedro o questiona sobre um dos assuntos mais fino nos evangelhos: o perdão.

"Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?". Perguntou Pedro.

"Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete". Respondeu Jesus.

A partir desse ponto, Jesus introduz a parábola.

Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservo que lhe devia cem dentários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.

Confesso que a parábola, em sua mensagem objetiva, é de dificílima exposição, mas irei colocar aqui, como ela se apresenta.

Jesus começa a parábola dizendo que o Reino de Deus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com seus servos.

Ajustar contas! Está é a palavra.

Deus é um Deus que ajusta contas.

O rei então, manda chamar alguém que lhe devia DEZ MIL TALENTOS.

O servo devia ao rei. O servo tinha uma divida para com o rei - ele era devedor. Porém, o servo não tinha como pagar o que devia.

O Bem, mais precioso que Deus possui, ele entregou. Compartilhou o seu tesouro. Emprestou por um pouco de tempo aos servos. O Bem precioso de Deus satisfez a sua própria justiça, tornando o homem devedor desse ato condescendente, de Deus.

Tal divida, o servo não pode pagar.

Tal divida os homens não podem pagar, porém, assim mesmo, para que se faça justiça e para que o servo perceba o tamanho de sua divida e sua extensão, o rei ajusta contas.

O servo, não tendo como pagar, recebe a sentença: "seja vendido ele, esposa e filhos!". Disse o rei.

O servo se desespera, implora: "Dai-me tempo! Eu pagarei o que devo".

Servo tolo. Ele é cheio de boas intenções (será?), mas boas intenções não pagam dividas. Uma divida tão alta, tão volumosa que com o passar do tempo só aumenta, como ele conseguiria quitá-la? Sua divida o deixava em uma situação de "pertencer" ao rei. 

A tentativa de pagar a divida, só aumenta a divida.

O Senhor daquele servo, vendo a condição na qual ele se encontrava, compadeceu-se dele e perdoou-lhe a divida

O Senhor perdoou a divida.

O Homem, por causa de seus inúmeros pecados, inúmeras ofensas e a cada dia ofende mais, aumentando assim a sua própria divida diante de Deus, está nesta condição.

Fazer com que o rei dispense-lhe o seu melhor e maior tesouro, é estar em divida constante para com ele.

...e o que dizer daqueles que ignoram tal tesouro doado e tal divida contraída?

O que dizer daqueles que ignoram a divida?

Aquele servo foi alvo da Graça de seu Senhor.

Aquele servo não tinha a mínima condição de pagar a sua divida.

Nada do que ele fizesse, pagaria.

Absolutamente, nada!

O seu Senhor, Graciosamente, o perdoou.

Deixou ele livre.

Não o escravizou por sua divida.

Não o oprimiu por sua divida.

Não lhe obrigou a trabalhos forçados, por sua divida.

Nem sequer exigiu que o servisse pelo resto de sua vida.

Simplesmente o perdoou.

Não disse que não queria mais vê-lo.

Não disse que não queria mais diálogo com ele.

Simplesmente o perdoou.

O Senhor daquele servo, não disse: "Eu lhe perdoei, mas a partir de hoje a nossa amizade não será a mesma". Ele simplesmente perdoou.

Não havia valor no servo.

Quem o compraria?

O seu Senhor o perdoou, justamente porque não havia valor nele e ele mesmo, não tinha valor algum para quitar a sua divida.

Os que acreditam que, Jesus se entregou por eles, por que eles possuem algum valor, estão ABSURDAMENTE ENGANADOS!

C.S. Lewis vai dizer, sobre isso, o seguinte: "...morrer por pessoas de valor, não seria divino, apenas um ato heroico".

Deus em Cristo, lhe oferece o perdão.

Se após isso, você escolher outra coisa para se engajar, que não seja o Reino de Deus, isso realmente, no final fará toda diferença.

Você terá escolhido o inútil.

O supérfluo.

O que a traça e a ferrugem correi.


Servo Malvado



O Reino de Deus é como um rei que decide acertar as contas com seus serviçais. Trouxeram à sua presença um servo que lhe devia o equivalente a trezentas toneladas de prata. Ele não podia pagar uma dívida tão vultosa. Então, o rei ordenou que o homem, com esposa, filhos e bens, fosse leiloado no mercado de escravos. O infeliz lançou-se aos pés do rei e implorou: "Dá-me uma chance, e pagarei tudo". Sensibilizado com o pedido, o rei deixou-o ir, cancelando a dívida. O servo perdoado mal havia saído da sala quando se encontrou com um companheiro que lhe devia apenas cem moedas de prata. Furioso, agarrou-o pelo pescoço e ordenou: "Pague-me! Agora!". O pobre homem lançou-se aos pés dele e implorou: "Dê-me uma chance, e pagarei tudo". Mas o outro continuou irredutível. Mandou-o para a cadeia, com ordem de ser solto só depois de pagar a dívida. Alguns servos que presenciaram a cena ficaram revoltados e relataram o fato ao rei. O rei mandou chamar o servo de volta e disse: "Você é mau-caráter! Perdoei sua dívida quando você implorou por misericórdia. Não deveria você também ser misericordioso diante das súplicas de seu companheiro?". O rei estava furioso e mandou que aquele servo ficasse na prisão até pagar toda a dívida. Meu Pai, no céu, fará exatamente a mesma coisa com aquele que não perdoar incondicionalmente qualquer um que peça misericórdia.

Mt 18.23-35


"Quando compreendemos uma parábola, é como se o chão se abrisse bem debaixo de nossos pés".

John Dominic Crossan

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Deus está Morto - O diagnóstico da Humanidade.

 


O homem Louco. – Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: “Procuro Deus! Procuro Deus!”? – E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? Disse um outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? – gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. “Para onde foi Deus?”, gritou ele, “já lhes direi! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? Não caímos continuamente? Para trás, para os lados, para frente, em todas as direções? Existem ainda ‘em cima’ e ‘embaixo’? Não vagamos como que através de um nada infinito? Não sentimos na pele o sopro do vácuo? Não se tornou ele mais frio? Não anoitece eternamente? Não temos que acender lanternas de manhã? Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós os matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? O mais forte e sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará esse sangue? Com que água poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de inventar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa desse ato, a uma história mais elevada que toda a história até então!” Nesse momento silenciou o homem louco, e novamente olhou para seus ouvintes: também eles ficaram em silêncio, olhando espantados para ele. “Eu venho cedo demais”, disse então, “não é ainda meu tempo. Esse acontecimento enorme está a caminho, ainda anda: não chegou ainda aos ouvidos dos homens. O corisco e o trovão precisam de tempo, a luz das estrelas precisa de tempo, os atos, mesmo depois de feitos, precisam de tempo para serem vistos e ouvidos. Esse ato ainda lhes é mais distante que a mais longínqua constelação – e no entanto eles cometeram! – Conta-se também no mesmo dia o homem louco irrompeu em várias igrejas , e em cada uma entoou o seu Réquiem aeternaum deo. Levado para fora e interrogado, limitava-se a responder: “O que são ainda essas igrejas, se não os mausoléus e túmulos de Deus?”.

NIETZSCHE, F. A gaia ciência. Aforismo 125

O Homem louco, Nietzschiano, esbravejou essas palavras por volta do ano de 1882, isso pela primeira vez. 

"Deus está morto". Essa é a constatação do Homem louco e que, provavelmente, refere-se ao Deus cristão. 

No entanto, o Deus morto do Homem louco, Nietzschiano, nada mais é do que as ideias morais da religião cristã que, segundo Nietzsche, estão em total desacordo com a realidade humana. 

Deus está morto, significa que seus valores são inadequados e impedem o desenvolvimento e amadurecimento do ser humano.

Deus está morto e o ser humano está agarrado no "nada".

Há tantas implicações aqui nesta frase de Nietzsche, que não é possível em um simples comentário abordar a sua abrangência. No entanto, o diagnóstico do Homem Louco, Nietzschiano é seguido de sua perplexidade: "Como fizemos isso? Como chegamos aqui?".

Em síntese, essa era a grande questão de Nietzsche.

E em parte, não será a grande questão no mundo atual?

Não será este, o grande questionamento?

Como chegamos a esta situação? Como chegamos até aqui? O que aconteceu e acontece com o ser humano na atualidade? Como nos tornamos tão egoístas? Como chegamos a nos devorar dessa forma? Será que Thomas Hobbes estava certo? "O Homem é o Lobo do Homem".

Será?!

Qual o diagnóstico da atualidade? Qual a resposta para os homens loucos - os homens loucos de Nietzsche que, andam pelas ruas a perguntar, contam os passos a lamentar, regam com lágrimas seus mortos a praguejar - eles também perguntam hoje, na atualidade - como chegamos a tal situação? Por que o homem, dentro de seu cardápio existencial, só se alimenta de poder? Por que está em cima ou acima dos outros é tão, masoquistamente falando, prazeroso? Porque o discurso, na boca dos pseudos representantes do povo é tão doce, na hora da captação dos votos (escada de suas ejaculações, fruto do coito entre a vaidade e o poder) e depois, na vida dos que legaram o poder à eles se torna tão amargo? Porque o deus deles é o ventre? 

São tantas as questões.

São montanhas de questionamentos.

Qual o diagnóstico da humanidade na atualidade?

O Homem louco está nas ruas e grita incessantemente: Deus está morto! Nós o matamos.

Há um ser humano em construção, gestado pela mídia sensacionalista, pagã, blasfema que através de seu olho de vidro, vende um produto que não compra. Há uma sociedade que vive em torno de ídolos e vez por outra joga lírios podres no mausoléu de Deus, como dizia o Homem louco Nietzschiano.

Como chegamos até aqui? Ora, Deus está morto! Nós o matamos e o expulsamos.

No entanto, os sinais vitais dessa sociedade estão, a cada dia mais fracos e mais frágeis e se Deus não for ressuscitado, logo estarão mortos também.

Quem senta na Cátedra do Universo antropológico? Certamente o Homem.

Deus está morto! Esbraveja o Homem louco.