"...nem tudo que sou é meu"
(Fábio de
Melo)
Chego aos 44 anos com a certeza
de que aprendi muito, mas o mais difícil, é transformar esse muito que aprendi,
em saber (Sapientia). Já não me iludo com letras e quantidades, as palavras que
ficam em mim são aquelas que eu as interiorizo, meditando-as, bebendo-as feito
água. Descobri que a beleza que encanta, não enche apenas os olhos, mas traz
suavidade aos ouvidos e isso não se aprende na faculdade das palavras
superficiais (...) é preciso treinar os olhos para ouvir e os ouvidos para ver.
Chego aos 44 anos com o mesmo
medo corajoso de sempre! Nunca deixei de decidir nada, mas sempre deixo a cargo
das minhas decisões, decidir o melhor (...) nisso eu nunca me intrometo! O amor
que há em meu peito tem raízes profundas, é difícil de derrubar, mas alguns,
ainda, com muita sutileza tentam jogar pedras, nada demais, os galhos ainda são
fortes e fortificados - bebem da seiva do Cristo!
Chego aos 44 anos tão lacrado,
abertamente fechado, que desejo fazer algumas confissões! É isto mesmo! Desejo
fazer minhas confissões uma vez que eu não sei se terei uma outra oportunidade:
Confesso que eu não estou feito,
imperfeito sou e na minha imperfeição corro o risco de deixar algum cisco
atrapalhar minha visão. Já errei muita conta, saltei algumas ondas, mas já não
salto não. Agora, me construo com um prumo, já não quero errar o rumo dessa
minha imperfeição. Junto com ela vem os meus defeitos e isso não tem jeito, não
é justo carregar no peito tamanha obrigação. Mas estou na escola da vida,
devagar, vou costurando as feridas até cicatrizar.
Confesso que ainda tenho humor,
mas não brinco com a dor e a desgraça de ninguém, amanhã nós não sabemos, vem
sempre outro dia também. Quem tudo humoriza, mostra que a sua vida encontrou um
jeito de estancar o sangue da ferida sem a preocupação com o que acontece nessa
vida.
Confesso que já me escondi em
mentiras de infância como quem quer driblar a realidade, enxugando as lágrimas
com um sorriso, para manter meus olhos iludidos com um mundo que não chegará.
Confesso que não sou
fundamentalista, sou de fundamentos, de solidez, não sou de tudo, sou de vez em
vez, não gosto de liquidez, sou de pisar firme! Mas já escorreguei – de convicções
fortes, mas não confio na sorte, ela me obriga com muito tato a ser sensato na
minha insensatez.
Confesso que sou o dono da razão,
não da verdade, eu tenho um coração e não apenas um pedaço de carne. Brigo pelo
que creio, mas brigo comigo mesmo, não sou bobo de acreditar que um outro posso
me roubar de mim, sendo que o maior vilão de mim mora em meus pensamentos. Por
isso sou dono da razão, da minha razão.
Confesso que não sou refém do
futuro, não tenho futuro, sou um sem futuro, não carrego o peso de antecipar o
que eu ainda não sei – existo hoje, vivo hoje! Meu futuro é hoje e todos os
dias faço as minhas construções futurísticas hoje: Amo hoje, choro hoje, acerto
hoje, erro hoje, sorrio hoje, brinco hoje, nasço e morro hoje para que amanhã
eu seja algo novo que seja trabalhado pelas mãos do Eterno.
Confesso que quando me perguntam:
“Você é evangélico?”, já não respondo com o mesmo entusiasmo de uns 20 anos
atrás, quando em minha criancice na fé, me impediam de ver que o movimento
evangélico tem suas falhas, seus erros e é composto por pessoas em construção e
também por pessoas construídas que aprenderam a arte da enganação e da
manipulação. Quando me fazem tal pergunta, confesso que pondero e devolvo a
pergunta perguntando: “Qual o seu conceito de evangélico?”. Então, só depois
respondo.
Confesso que não me sinto
obrigado a ser feliz! Não há como ser
feliz – está feliz é possível. Felicidade não é um lugar concreto onde se
chega. Na tentativa que as pessoas fazem de demonstrarem felicidade, mostram,
na verdade a sua infelicidade. Lágrimas e sorrisos se misturam nessa vida como
pedra e areia em ruínas. Não me sinto obrigado a ser feliz! Aliás, Fernando
Pessoa dizia que, “Mas eu nem sempre
quero ser feliz. É preciso ser de vez em quando infeliz para se poder ser
natural...”. É isso.
Confesso que passei boa parte da
minha vida com receio e me esquivando dos “diabos”, mas me esqueci do ser
humano. Hoje tenho mais receio do ser humano do que do “diabo”. O diabo ataca e
sutilmente se mostra em suas intenções, o ser humano engana com o “amor”,
principalmente quando o “amor” lhe traz benefícios.
Confesso que as vezes levo
desaforo para casa: não gosto de bate-boca pois em cada ser humano mora um
animal selvagem. Não gosto de brigas! Fujo mesmo e podem me chamar do que
quiserem. Já faz tempo que não me importo com isso.
Confesso que desperdicei tempo
querendo ser muitos! Fui tudo e não fui eu mesmo – tropecei em minhas próprias
imagens, descobri que não sou “deusinho”. Dizem que filho de Deus, deus é? Pois
bem, descobri que filho de Deus, é filho mesmo. Desfruto da condição que nasci,
transformando-me todos os dias naquilo que o sopro do Espírito me faz.
Confesso que as vezes fico azedo,
amargo, impaciente – coisas que as
circunstâncias tentam implantar em nós – triste de uma tristeza só.
Nostálgico, desenfreado, essas coisas que nos lembram que somos pó.
Confesso que sou bibliófilo! E se
é uma doença, estou ferrado, não há cura para um bibliófilo.
Confesso que aprendo para
desaprender, deixo cair uma palavra afim de ver no que ela vai se transformar:
num simples riacho ou em um imenso mar?
Confesso que bati em muitos e
apanhei, briguei – feri e ferrei, fui ferido e ferrado, amei/amo e fui/sou
amado. Tudo fruto do tempo que em seu sábio silêncio, também me fez silenciar.
Confesso que sou apaixonado por
mulheres sábias! Elas têm a capacidade de atrair – são jeitosas, calam quando
sentem, produzem a palavra no silencio, esperam a oportunidade – seduzem sem
serem vulgar, a maior beleza que manifestam, não está no corpo, mas no falar.
Tenho desconfiança de mulheres que muito se exibem, elas mostram, as vezes, uma
beleza externa que, disfarçam uma feiura interna.
Confesso que as vezes, não é
sempre, mas as vezes tenho um comportamento antissocial. O barulho me incomoda!
Observe: estou falando que o barulho me incomoda, não a musica e a
musicalidade, nem as pessoas de bom diálogo, mas as pessoas que só falam
besteiras toscas porque existem até besteiras boas, entende? Gosto do
isolamento, do silêncio – barulho só o que eu produzo.
Confesso que não gosto do
movimento politico no Brasil, aliás, no Brasil não há política, mas politigem,
politiquismo, politi-eu, entende? Todo mundo que se candidata tem um projeto-político-messiânico!
-E incrível! No entanto, uma boa parte da população brasileira já se acostumou
com isso. Aqui no Brasil, bom mesmo é o politico Robin Wood: “Tira do rico e
divide entre eles e os pobres”. A única diferença aqui é que eles ficam com a
parte maior dessa, entre aspas, boa ação.
Confesso que amo a beleza
natural, o mar, as flores, as árvores frutíferas, frutando, bem como as árvores
que já deram muito fruto e agora, já idosas, descansam. Confesso que amo o céu
azul ou vestido de nuvem ou ainda, pingando água. Amo quem não se disfarça,
quem não vive de máscaras, amo o cântico dos pássaros e o silencio da alta
madrugada. Amo o rosto da criança, a inocência de um olhar limpo.
E para finalizar, confesso que não sei confessar, confesso que tenho consciência de que vou passar, passando, passagem, confesso que a vida que tenho pode ser tirada, mas a vida que sou, nunca morrerá. Confesso o meu amor a Jesus, o Cristo que me crista e cristaliza todos dias! Ele é o Sol da justiça que me justifica! Jesus é o meu ponto/porto final e inicial, para o eternamente sempre.
Onigroej