É de conhecimento público o
poder que a religião possui a partir da experiência na pratica religiosa. Para
além dessas experiências particulares de cada indivíduo há uma importância na
religião e não podemos simplesmente ignorar ou demonizar a sua existência. Nas
escolas o assunto caminha pelos corredores e por isso se faz necessário fazer
incursões de forma equilibrada respeitando as várias correntes religiosas ou
movimentos religiosos sem banalizações ou piadas.
O ensino religioso faz
parte das salas de aula nas mais variadas escolas e cada uma procura adotar
métodos para facilitar o ensino de forma a impedir fanatismos e exageros. A
escola é um espaço social e a ideia, com o ensino religioso é saber como esta
temática pode contribuir de forma saudável e positivamente para o ambiente em
sala de aula.
O título proposto de nossa
reflexão possui a intenção de provocar uma necessária elucidação sobre a
religião e sua relação com a educação na companhia sempre amigável da sanidade.
É de inteira responsabilidade do docente que está com a incumbência de
facilitar a aprendizagem no campo da religião, os métodos e caminhos utilizados
para que todos possam ter uma compreensão abrangente do assunto, clarificando-o
e explorando-o, abrindo assim espaços de debates e reflexões.
É possível a aplicação do
ensino religioso, sim, é possível mesmo em um período de tanto ódio contra a
religião e um ódio provocado por um des-curso e não discurso, mal
elaborado privilegiando certos movimentos espalhados em nossa sociedade. Se quisermos
ter êxito nesse tema, precisamos, repito, clarifica-lo o máximo possível
investindo tempo nos conceitos existentes, ampliando-os, aprofundando-os e
expandindo-os.
1. O QUE É RELIGIÃO?
Se
vamos falar sobre ensino religioso, então comecemos falando sobre o conceito de
religião. Sim, comecemos colocando os pratos na mesa de forma ordenada para que
não haja desinformações. Se fizermos uma boa introdução do assunto, estaremos
pavimentando o caminho.
Ludwig
Feuerbach, dirá o seguinte sobre a ideia ou conceito de religião:
“A
consciência de Deus é autoconsciência, conhecimento de Deus é autoconhecimento.
A religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos
seus pensamentos íntimos, a confissão aberta dos seus segredos de amor.”
O ser humano possui uma
busca consciente ou inconsciente pelo sagrado, dentro dele existe essa
necessidade, esse vazio que sai em busca de alguma coisa, de algo que possa
preencher esse vazio ou essa expectativa por algo que não se consegue dar, à
vezes, um nome, mas que no sentido religioso o nome é, Deus. É aquilo que Ludwig
Feuerbach chama de “desvelar dos tesouros ocultos”.
O saudoso Rubem Alves, em
seu livro “O que é Religião”, contribuirá para estabelecer um conceito, dizendo
o seguinte:
“No
processo histórico através do qual nossa civilização se formou, recebemos uma
herança simbólico-religiosa, a partir de duas vertentes. De um lado, os hebreus
e os cristãos. Do outro, as tradições culturais dos gregos e dos romanos. Com
estes símbolos vieram visões de mundo totalmente distintas, mas eles se
amalgamaram, transformando-se mutuamente, e vieram a florescer em meio às
condições materiais de vida dos povos que os receberam. E foi daí que surgiu
aquele período de nossa história batizado como Idade Média”.
Basicamente, uma teia de
símbolos, diz Rubem Alves. Um ser humano está em busca de transcendência e isso
passa de geração a geração. A religião passa deixando herança religiosa. Desse
modo o sagrado, sendo passado de geração à geração, sofre uma espécie de
colonização e se torna cristianizado pela cosmovisão cristã. No entanto, não
estamos falando em sala de aula apenas de uma vertente da religião, ou apenas
de um movimento. A religião se pluraliza e se diversifica. As heranças devem
ser respeitadas, digo, as heranças religiosas devem ser respeitadas, mas elas
estarão ao lado de outras heranças que também devem ser respeitadas.
Deste modo, tratamos
religião aqui como um espaço pedagógico para uma mística da relação e do
diálogo que habita entre a educação e o amor cujo resultado final será uma
ética-religiosa que inclua o outro como parte do todo.
Isidoro Mazzarolo, fazendo
uma distinção entre Religião e espiritualidade, tras a seguinte ideia: “A
religião é o “meme”, que se transmite de geração em geração, através da
família, da educação e dos conhecimentos. A religião tem mais cultura que
espiritualidade, tem mais de expressão humana, visual e concreta que elementos
transcendentes”.
Para Mazzarolo, a Religião
é cultural e fala mais a ritos visíveis do que a interioridade do ser. Bom, se
há Religião deve haver algum tipo de espiritualidade ou espiritualismo. Observem
os termos pois será preciso deixa-los claros em sala de aula.
Diante desses breves
conceitos sobre Religião, podemos ver que além de ser um movimento de cada
pessoa, ela também se constitui em um sentimento coletivo e, portanto, social. O
desafio no ajuntamento é perceber como cada um foi, é e está sendo construído
ou como se está construindo a religião em cada estudante. Ora, em dias
polarizados e de pluralismo mais do que exacerbado, há de se produzir luz
abundante sobre esse assunto para iluminar a todos.
2. O QUE É EDUCAÇÃO?
Celso Antunes em seu livro,
“Introdução a educação”, nos diz que:
“Em certo sentido
vocabular, a palavra “educação” nos remete ao ato ou efeito de educar, processo
que busca o desenvolvimento harmônico da pessoa nos seus aspectos intelectual,
moral e físico, e sua inserção na sociedade. Considerando que a espécie humana
nasce imatura tanto do ponto de vista biológico quanto de suas condições intelectuais,
a educação é um conjunto de práticas e usos destinados à preparação progressiva
para inserção plena da criança na comunidade em que vive e na sociedade à qual
essa comunidade se integra. Assim, a educação busca suprir tudo quanto pelo instinto
a espécie humana não consegue obter: noções de higiene, cuidados corporais, informações
sobre saúde, alimentação, relações interpessoais e inúmeras outras formas de
procedimento”.
Pelo visto, segundo celso
Antunes, o ser humano não nasce educado. Ele é educado no processo de seu
desenvolvimento e sendo assim, há uma parceria entre Escola, Docente e os pais.
Sim, o papel da escola não é a escolarização, mas a educação em parceria com os
pais. Em sala de aula o estudante aprende junto com outros estudantes a partir
das temáticas facilitadoras introduzidas pelos docentes. No caso do ensino
religioso o estudante também aprende ou clarifica o assunto compreendendo junto
com outros, na mesma sala, a pluralidade e complexidade do conteúdo. É claro
que em casa, cada um passa pelo processo hereditário dos assuntos religiosos,
ou seja, em casa esse estudante recebe os primeiros passos na vida religiosa
(pelo menos se imagina isso) e em sala de aula ele acaba se encontrando com
outros que vivem em experiencias religiosas, passando assim a conviver com elas
e ampliando o próprio conceito de religião.
Na escola o estudante é
educado nos assuntos religiosos, principalmente a conviver com a opção
religiosa do outro. Para isso o docente, embora tenha a sua opção religiosa,
não ensinará a sua opção religiosa, mas fará incursões nas religiões mais
diversas, incluindo a sua. Isso é educação. “Desenvolvimento harmônico”, é isso
que Celso Antunes diz. O educador é uma pessoa compartilhando o caminho processual
do desenvolvimento humano com outras pessoas. É mais do que ser Professor,
entende? É mais do que distribuição de conteúdo, entende? É ser participativo
dentro do processo. É de alguma forma, na medida do possível, segurar na mão. Aqui
não há caminho fácil, mas o educador pode ser um facilitador do caminho a
partir de sua experiência. Presume-se que o docente-educador, saiba o caminho
ou pelo menos já esteja um pouco a frente daqueles que estão iniciando o
caminho. Para que isso tenha êxito é claro que deve haver uma força tarefa:
pais, escola, docentes, planejamentos, organizações, enfim, o trabalho é
laborioso.
Rubem Alves, o eterno
professor, pedagogo, educador, psicanalista, poeta e ex-pastor e tantas outras
coisas que servem como referência, dirá que “educação é ensinar a ver”. Uma
pedagogia do olhar. Ele sempre tocava nesse assunto. Ainda com ele, Rubem
Alves, ouve-se o seguinte: “...não consigo me lembrar de qualquer referência
à educação do olhar ou a importância do olhar na educação...”.
Dentro desta perspectiva, o
ser educado é alguém que aprendeu a ver a si mesmo e ao outro. É preciso educar
a sensibilidade, é preciso uma educação dos sentidos, do sentir. Assim o
estudante em sala de aula captará a importância da religião do outro para o
outro, diferenciando ou não da sua, porém com a certeza de que embora
diferentes, não precisarão ser indiferentes um com o outro.
3. SANIDADE EM SALA DE AULA.
Quando
falamos de sanidade em sala de aula, estamos falando de saúde mental,
compreensiva, no trato das relações entre pessoas que professam credos
diferentes, mas são colegas em sala de aula. A religião faz parte da composição
humana que faz parte de uma sociedade que se relaciona e que assim,
acredita-se, evolui. Evoluir aqui não significa adaptar-se a religião do outro
diluindo a sua, mas uma compreensão saudável que o espaço do outro deve ser
respeitado. É preciso criar um espaço religioso saudável para a exposição do
próprio ensino religioso.
Deste
do ponto de vista da sanidade em sala de aula na exposição do ensino religioso,
deve-se peregrinar pelos espaços sagrados com respeito e reverencia detectando
os pontos positivos e negativos sempre trabalhando com respeito. O trabalho do
docente é levar os assuntos a reflexão fazendo com o estudante possa estar à
vontade para expor a sua opinião.
No
debate dialogal é preciso levar o ensino religioso que traga saúde para todos.
Um estudo religioso que não lhes imprima medo: religião que imprime medo acaba
perdendo o seu religare, ou seja, a religião que não liga novamente, que
não faz com que as pessoas se voltem para Deus e o seu próximo, ou seu Deus e
ao seu próximo, perde a sua eficaz positiva e não cumpre a sua missão de
juntar. A sanidade esta ai: separando trigo e joio.
Conclusão.
Hoje a sociedade em que
vivemos se mostra muito mais complexa e pluralista do que sociedade de vinte,
trinta anos atrás. Isto não é apenas uma constatação social, é o próprio
desenvolvimento cultural que trata de expor a nós a sua forma de vida. A sala
de aula é um espaço social cheio de cultura, de pessoas que vivem nos mais
diversos ambientes e professam as mais diversas crenças. Criar um ambiente
saudável para o ensino é preparar essa geração para viver em paz num futuro
próximo que começa hoje. Avante! Docentes. Cumpramos nossa missão.