sábado, 6 de setembro de 2025

50 e poucos anos.

 



Eu tenho dificuldades de me "caber".

O tempo passou, passa e vai passando, mesmo agora enquanto digito estas palavras.

Preciso de tradução.

Preciso me traduzir.

Preciso que me traduzam.

Em cima do penhasco, me alargo - me vejo queda, me vejo asa.

No rio calmo, me sinto correnteza e me percebo ficando, ao mesmo tempo que vou indo.

Hoje sou casa, mas já fui solo...

Me consolo com o fato de não ser acabado - sou casa no tijolo prestes a ser rebocado.

Tenho sementes em forma de silêncio - guardo-os: tenho medo delas serem comidas pela ignorância de quem não conhece o seu próprio próximo passo.

Por isso me esgotei de tanto falar e deixei que as palavras escorressem como a chuva escorre pela folha verde da árvore.

Me vi envolto ao vento e ele brincava comigo - vezes eu o perseguia e outras vezes me perseguia ele, assim, ambos exaustos dormimos um nos braços do outro.

A ausência me devolve-me a mim, antes esquecido no colo de qualquer alguém - busquei os gestos de amor que perdi no outro que não soube amar.

Eu tomo café comigo mesmo e descobri que o espaço vazio também fala...

O espaço não preenchido, não confere solidão e de tantas vezes ferida, a alma sempre conhece o caminho...

Eu não tenho pressa.

...e no caminho, descubro que fui escrito: então sou folha e tinta vestido de pele e osso e um dia me transformarei em história e ai, viverei.