sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O Natal de Maria

 


Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fimEntão, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá (episkiázōcom a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.

Lc 1.30-35

...e então, é Natal.

Não quero falar sobre o Natal historicamente secular.

Não quero falar sobre o Natal onde a figura preponderante é o Papai Noel.

Não quero falar, apenas das confraternizações familiares que acontecem no Natal que, evidentemente possui o seu devido valor.

Portanto, gostaria de falar um pouco sobre o Natal de Maria.

O Texto Bíblico descrito acima, mostra-nos como é o Natal sob o olhar de Maria.

O Natal sob o olhar de Maria é o Natal da Graça - "Achaste Graça...".

Maria achou Graça, foi - lhe dispensada a Graça Divina. Em Deus não há mérito em ser escolhido ou escolhida, mas há Graça. Deus é Deus da Graça em Cristo Jesus. Maria não foi escolhida por mérito, mas por Graça.

O Natal da Luz - "...darás a Luz um Filho.".

Timothy Keller, sobre a questão da Luz, faz um belíssimo comentário: "O Natal contém muitas verdades espirituais, mas será difícil entender as outras se não compreendermos primeiro essa. Que o mundo é um lugar escuro, e que jamais encontraremos o caminho ou enxergaremos a realidade a menos que Jesus seja a nossa Luz".

A Luz traz esclarecimentos, visibilidade, promove ordem. O Natal de Maria traz essa Luz que não é dela, mas de quem ela carrega em seu ventre. Essa Luz a ilumina e também a todos os que nesta Luz, crer.

O Natal da Vinda do Reino de Deus - "...e o seu Reino não terá fim".

O Natal para ser Natal dever ser realizado dentro dos padrões Divino: Muita alegria, comunhão e Paz!

O Natal da Perplexidade diante do mistério - "Como será isso?".

Sob o olhar de Maria, o Natal causa perplexidade, hora, não é de se admirar, qualquer pessoa ficaria perplexa diante de tais palavras. Não há com que se preocupar: se o projeto é Divino, os meios também são.

O Natal da Presença do Espírito Santo - "Descerá sobre ti o Espírito Santo".

O Natal de Maria, é o Natal onde há presença do Espírito Santo. Assim sendo, há gozo, paz e alegria no Espírito. Não acredito em um Natal que traz dor, acredito que no período natalino haja pessoas que sentem dor e estejam passando algum tipo de sofrimento, mas não acredito que o Natal promova isso. Em período natalino em que as pessoas cometem violência, não é o Natal Bíblico. No Natal Bíblico, não se promove mortes, mas Vida! A presença do Espírito Santo traz Vida. O Natal sob esse olhar de Maria, é o Natal da experiência com o Espírito Santo. Há experiências com o Espírito de Cristo, no Natal? Se houver, estaremos vivendo um altêntico Natal.

O Natal do envolvimento de Deus com a humanidade e da humanidade com Deus - "...o Poder do Altíssimo te envolverá".

Natal é envolvimento.

A mensagem do Natal não cabe em um dia, em uma data. Não cabe apenas em um movimento social, comunitário - não é coisa apenas de fim de ano. Não é apenas sentar e comer com os amigos e familiares. A mensagem do Natal perpassa a data 25 de Dezembro. Natal, bíblico é: Deus se envolveu com o plano redentivo do ser humano por que o ser humano estava perdido sem a mínima opção de salvação - a mínima condição de salvação. Não se pode, em nome do bem estar, ignorar a mensagem principal do Natal. 

Natal é envolvimento com a causa Divina e sem envolvimento com a causa Divina, não há Natal.

Deus, em Cristo envolveu-se com a causa humana. Deus em Cristo chegou o mais perto possível! O Natal é um período de engajamento em projetos do Reino de Deus. Quando saberemos se o nosso engajamento é integral? É de fato e de verdade? Deus envolveu-se de fato e de verdade conosco, e nós, nos envolvemos com ele?

O Natal de Maria é um Natal de engajamento. Ela engajou-se ou foi engajada num plano de Deus que visava a salvação do ser humano.

Maria cedeu o seu ventre para o nascimento de Jesus. 

Para quê Jesus nasça no coração de alguém, o que nós cedemos?

O Natal de Maria é Natal no sentido mais Pleno da Palavra.

E o nosso?!


Que haja Natal!

E houve Luz.



sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Sentar e Caminhar: Por uma Teologia Espiritual.


 Ainda estamos engatinhando em nosso relacionamento com Deus: há informações que não sabemos, há situações conhecidas, mas não compreendidas em sua totalidade (...) Deus continua sendo um misterium Tremendum.

Nossos estudos, incursões nas Escrituras Sagradas, nossas tentativas frágeis de decifrar os códigos, as pausas, as reflexões (...) aquele olhar perdido em busca de algo, de alguma coisa que possa nos conduzir ao "saciar-se" de nossa sede - isso ainda é misterioso.

A fé por vezes frágil, mas intacta, ainda e tão somente é o que temos. A existência necessita da "Vida" para poder comportar-se de forma adequada em relação a Deus.

Sem isso, acredite, tudo é correr atrás do vento.


Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra (Gn 12.1-3).

A partir da leitura do texto acima, começam as discussões teológicas, aliás, que experiência teológica de Abrão, não acham? As discussões teológicas podem, dependendo do rumo em que elas tomarem, ser entediantes, técnicas, mecânicas e arrastadas caso não tenhamos a humildade de entender que as teologias brotam do solo da terra (humanas) que acolhem o fruto Divino (revelação). 

A experiência de Abrão é uma experiência teológica, sem sombra de duvidas. Se não acredita, observe o texto:

"Disse o Senhor a Abrão".

Toda boa teologia começa com aquilo que Deus disse e não com aquilo que o ser humano diz. Nós apenas nos debruçamos sobre aquilo que Deus disse e só podemos compreender aquilo que Deus disse se ele mesmo, com sua Graça e Misericórdia, nos conduzir nesse processo.

"Sai...".

Se ponha a caminho. Desloque-se

Para nos encontrarmos com Deus depois que ele nos encontra, é necessário "sair". Sair depois dele ter nos falado, ter nos dito algo - se ele não disser, é bom nem sair. Sair para onde? Eis um erro terrível e quase sem concerto: sair sem que Deus tenha dito alguma coisa. Parece loucura e talvez seja, mas é o tipo de loucura que nos colocará no centro da Vontade de Deus. Como saber?! Só ele pode dizer.

"...da tua terra, de sua parentela, da casa de teu pai".

Rompe com certos status.

Vai à um passo depois do risco da fronteira.

Transcende.

Queres descobrir algo novo, corra riscos...

Ouse confiar.

Olha além! Deixa a pupila dilatar.

Ver ao longe.

O caminhar teológico não se esgota em uma terra (espaço geográfico - Cursos, seminários etc) mas se desenvolve quando ousamos romper - pensar (...) Teologia se faz na espiritualidade e espiritualidade autentica, tem que ser teológica.

Ir, debaixo de uma confiança oferecida, é abrir mão das certezas, encarar o novo e ficar exposto a possibilidades.

"Vai para uma terra que te mostrarei".

Aqui está o espanto teológico: não importa por onde você começa, quem mostra o caminho é aquele que oferece a revelação, e o teu trabalho? Bom, o teu trabalho é se debruçar sobre ela.

Pode se dizer com toda certeza que a teologia parte de um pensamento humano, sim, que seja assim mesmo. No entanto, não esqueçamos que até a capacidade de raciocinar vem de Deus! O que tu tens que não tenhas recebido? Vociferava o apóstolo Paulo.

Caminhe com Deus pelo deserto e ele lhe mostrará um jardim. O difícil mesmo é nós vermos.

Há uma terra que só Deus pode mostrar.

Há lugares secretos que só Deus pode levar-nos.

Teologia só é possível se Deus "mostra".

Isso é um golpe na soberba humana e no antropocentrismo.

Antropocentrismo é um movimento que coloca o ser humano como eixo do universo, o homem coroado pelo individualismo e a autossuficiência - Púlpito delirante.

Na Teologia, é Deus quem mostra: nós apenas seguimos rastros.

Um Deus que se submete aos caprichos do antropocentrismo, é um Deus adulterado - obra das mãos (um olhar torto na leitura bíblica) de alguém ou alguéns que quer um deus para mandar. Não há maldição maior do que seguir esse deus adulterado.

Para finalizar, importa dizer que, quem sai, só sai porque um dia foi buscado. Quem busca, não sai - sai quem foi buscado.

...é Deus quem busca.






sábado, 20 de novembro de 2021

Por Uma Ética da Vida

 



Chegando um dos escribas, tendo ouvido a discussão entre eles, vendo como Jesus lhes houvera respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o principal de todos os mandamentos? Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. Disse-lhe o escriba: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que ele é o único, e não há outro senão ele, e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios. Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém mais ousava interrogá-lo.

Mc 12. 28-34

Podemos dizer, sem sobra de duvidas que o Cristianismo de Cristo (se é que há um cristianismo em Cristo) possui implicações éticas. Observando a síntese de toda lei e os profetas proferida por Jesus, já sabemos que há dois elementos que sustentam essa ética: O amor a Deus e o amor ao próximo.

O amor a Deus dar-se na relação vertical que se espalha nas relações horizontais. O amor a deus implica em uma relação com ele em que ele não seja instrumentalizado para somente atender as demandas daqueles que dizem que o amam. Amar a Deus implica em um amor que dele recebemos e à ele devolvemos sem querer absolutamente nada em troca. Quem ama a Deus não está em busca de alguma estratégia para arrancar dele alguma benção. Quem ama a deus, ama. Essa é uma ética da vida! Amar a Deus como sentimento livre de quaisquer vantagem, beneficio ou sucesso recebido (...) amar a Deus, amando enquanto caminha com ele em uma relação de puro amor. O amor a deus deve ser com todo o coração (sentimentos convergindo para ele) com todo o entendimento (sabendo o conceito de amor vindo da parte de Deus) e com toda as tuas forças (a energia dispensada visando um alvo especifico). 

O amor a Deus se dá nessa perspectiva descrita acima.

O amor ao próximo que só é possível devido o amor a Deus e o amor recebido de Deus, possui implicações éticas fortíssimas. Amar o próximo se dá em uma relação horizontal uma vez em que esse amor já se deu em uma relação vertical. A horizontalidade desse amor se dá na empatia: colocando-se no lugar do outro. O amor ao próximo é aquele que se ama o outro como se o outro fosse o si mesmo. Aqui, com esse olhar, nasce a ética do acudir, a ética de acolher, a ética de olhar o outro como se olha a si mesmo e espalhar esse sentimento. 

Essa é a ética da vida! 

Amar ao próximo, lembrando que o próximo pode não gostar das mesmas coisas que você gosta e assim ser respeitado em seu espaço de trabalho, em seu espaço entre os amigos, em seu espaço dentro de sua própria casa. 

Sobre isso dirá Albert Schweitzer, o filosofo: "O homem não será realmente ético, senão quando cumprir com a obrigação de ajudar toda a vida à qual possa acudir, e quando evitar de causar prejuízo a nenhuma criatura viva. Não perguntará então por que razão esta ou aquela vida merecerá a sua simpatia, como sendo valiosa, nem tampouco lhe interessará saber se, e a que ponto, ela for ainda suscetível de sensações. A vida como tal lhe será sagrada".

Schweitzer, está falando de uma ética que acode.

A vida relacional só será possível quando uns entenderem que há outros e que esses outros não são os "uns", entende? Em qualquer ambiente, seja no trabalho, seja na Igreja, seja em casa, se não houver essa ética da vida, não haverá vida relacional. 

Amar a Deus com...

...e ao próximo como...

A Deus com e ao próximo, como.

Assim, o ser humano só se torna um ser ético quando ele acolhe essas implicações como realidade em seu interior. O ser humano só entenderá o conceito essencial de ética quando ele cumprir a obrigação de acolher o outro que lhe acolhe com todas as suas limitações. 

Não há tarefa fácil aqui.

No entanto, como diria eu que é fácil salvar as relações?

Ética se dá no campo das relações.

O outro possui direitos assim como eu possuo direitos e todos os direitos envolvidos devem ser respeitadamente direitos. 

Criar um ambiente saudável para que todos possam viver em harmonia, isso é ética.

Viver em harmonia só é possível através de princípios éticos tendo como base o amor ao próximo, Amor não como sentimentos egoísticos, mas amor como aquele recebido da parte do Pai e distribuído como do Pai recebeu.

Se não for possível amar ao próximo, não será possível ser ético. Se não for possível ser ético, não será possível amar ao próximo.

Amar a Deus com toda força e ao próximo como a si mesmo. Isto é a base, a síntese dos mandamentos que Deus concedeu para o seu povo e neles está implícito os princípios éticos para se viver bem em sociedade.

Se quisermos uma sociedade ética em todas as suas esferas, busquemos o amor como o axioma principal, mas não o amor cheio de sentimentalismos, o amor que sabe que amar implica no bem estar do outro e vice e versa.

Lutemos por uma ética da vida, do acolher, do acudir e do respeitar o espaço do outro. Minha liberdade só é minha liberdade até que ela interfira diretamente na liberdade do outro estar bem no exercício da minha liberdade. Se a minha liberdade implica na diminuição da vida do outro ou de sua liberdade, então, essa liberdade que se pratica é uma liberdade tirânica e egoísta.

Por uma ética de tato, que gera contato e por fim, relação.

Pensemos...