domingo, 17 de outubro de 2021

...e a vida, o que é?

 


Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.

Tg 4.14

A de surgir o tempo em que por alguns segundos seguremos o tempo para pensar no tempo e na vida. Falando nisto: o que é a vida?

Fui pego por esses dias, depois que a correria aquieta-se. Depois que os passos freiam a pressa (...) fui pego esses dias me fazendo essa pergunta ontológica.

O texto acima citado, na epistola de Tiago, é na verdade uma lâmina afiada de dois gumes. É o levantar do véu. É o despertar do sono (Hupnos).

Tiago vai dizer que a vida é um vapor que aparece por um pouco, e depois desvanece. Arrepia um pouco.

A palavra para esse "vapor" é Atmis que está por trás da palavra ephemeros.

A vida (bios) é um vapor.

Rápido se dissolve.

Desaparece.

Acaba.

Ephemera.

A vida é passageira.

Gota que cai e se dissolve.

Orvalho que se desmancha.

Nuvem passageira.

Quanto tempo eu tenho?

Quanto tempo me resta?

Me resta o ephemeros.

Me resta o que há pela frente.

Não tenho anos somatórios.

Tenho anos de hoje para frente.

Os anos passados? Bem, os anos passados eu não os tenho mais: eles ephemeros.

O tempo perdido pode ser recuperado, menos o tempo ephemeros.

Hoje, caminhando com o meu pequeno nos braços, no cair da tarde, no pôr do Sol, só nós dois, ele olhou em meus olhos, segurou o meu rosto e então lhe perguntei: "Quanto tempo eu tenho?". Ele desviou o olhar e sentiu o vento soprando em seu rosto e encostou em meu peito.

Talvez ele tenha feito isso como uma resposta.

Ephemeros.

A vida é vapor.

Hoje é, amanhã, não mais.

Quando você menos esperar, então (...)

Passou.

O que é a vossa vida? Perguntou Tiago.

O que é a vossa vida? Pergunto-lhes eu.

Sopro.

Vento que passa pela fresta da janela fazendo barulho e logo passa.

Um caminho sem volta.

...e este dia, nunca mais acontecerá.

A vida é ephemeros.



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