Os
poetas quando falam em Deus em suas poesias, não se preocupam em conceitua-lo,
pelo contrário, para eles em Deus o conceito é muito inadequado e por isso
procuram senti-lo. Deus é para ser sentido.
Na poesia a linguagem a respeito de
Deus é possível porque ela não tem preocupações quanto a sua interpretação: não
se interpreta poesia. Deus não pode ser interpretado. Quando pensamos Deus a
partir de um pensamento poético precisamos entender que tal pensamento será
muitas vezes interrompido porque para se pensar em Deus poeticamente falando é
necessários alguns intervalos. Aliás, Fernando Pessoa certa vez falou sobre
isso dizendo: “Deus é um grande intervalo”.
Deus no pensamento de Fernando Pessoa é muito diverso e às vezes ele fala em um
tom de dúvida revestida de uma certeza vista apenas nos detalhes. Há outro
poema de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, que diz: “Mas
se Deus é as flores e as árvores e os montes e o sol e o luar, então acredito
nele a toda hora e a minha vida é toda uma oração e uma missa e uma comunhão
com os olhos e pelos ouvidos”. Não é em certos
discursos que audaciosamente tentamos transmitir Deus que ele acredita. Ele
acredita no Deus que ele sente no cheiro das flores, na sombra das árvores, nos
raios de sol e no frescor do luar. Assim sendo a busca desse Deus tão desejado
acontece através dos sentidos, da percepção: Deus esta no cheiro próprio da
vida. A respeito dessa busca e dessa vontade de Deus, o educador, filosofo,
teólogo e psicanalista Rubem Alves disse o seguinte: “Quero
Deus como um artista que cata cacos do meu vitral, partidos por pedradas ao
acaso, e os coloca de novo na janela da Catedral, para que os raios de sol de
novo por eles passem. Deus é uma fonte de água cristalina”.
Deus envolvido nos panos de linho fino da poesia é muito mais bem tratado, não
acham? Olhar a Deus através dos olhos da poesia é abrir uma pequena janela no
horizonte do ser e entre suas frestas ficar expiando para fisgar com esses
olhos curiosos, algum vislumbre de Deus. Mário Quintana dizia: “Quem
faz um poema abre uma janela...”. Acredito que é
mesmo assim. O fato incontestável é que Deus também é encontrado na poesia que
lemos ou fazemos todos os dias.
J.R.S