terça-feira, 30 de abril de 2013

Deus é Mistério Poético


 
 
 
          Os poetas quando falam em Deus em suas poesias, não se preocupam em conceitua-lo, pelo contrário, para eles em Deus o conceito é muito inadequado e por isso procuram senti-lo. Deus é para ser sentido.
        
         Na poesia a linguagem a respeito de Deus é possível porque ela não tem preocupações quanto a sua interpretação: não se interpreta poesia. Deus não pode ser interpretado. Quando pensamos Deus a partir de um pensamento poético precisamos entender que tal pensamento será muitas vezes interrompido porque para se pensar em Deus poeticamente falando é necessários alguns intervalos. Aliás, Fernando Pessoa certa vez falou sobre isso dizendo: “Deus é um grande intervalo”. Deus no pensamento de Fernando Pessoa é muito diverso e às vezes ele fala em um tom de dúvida revestida de uma certeza vista apenas nos detalhes. Há outro poema de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, que diz: “Mas se Deus é as flores e as árvores e os montes e o sol e o luar, então acredito nele a toda hora e a minha vida é toda uma oração e uma missa e uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos”. Não é em certos discursos que audaciosamente tentamos transmitir Deus que ele acredita. Ele acredita no Deus que ele sente no cheiro das flores, na sombra das árvores, nos raios de sol e no frescor do luar. Assim sendo a busca desse Deus tão desejado acontece através dos sentidos, da percepção: Deus esta no cheiro próprio da vida. A respeito dessa busca e dessa vontade de Deus, o educador, filosofo, teólogo e psicanalista Rubem Alves disse o seguinte: “Quero Deus como um artista que cata cacos do meu vitral, partidos por pedradas ao acaso, e os coloca de novo na janela da Catedral, para que os raios de sol de novo por eles passem. Deus é uma fonte de água cristalina”.
 
        Deus envolvido nos panos de linho fino da poesia é muito mais bem tratado, não acham? Olhar a Deus através dos olhos da poesia é abrir uma pequena janela no horizonte do ser e entre suas frestas ficar expiando para fisgar com esses olhos curiosos, algum vislumbre de Deus. Mário Quintana dizia: “Quem faz um poema abre uma janela...”. Acredito que é mesmo assim. O fato incontestável é que Deus também é encontrado na poesia que lemos ou fazemos todos os dias.
 
 
 
 
 
J.R.S
 
 

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