Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.
Mt 18.28-35
Começo aqui, com uma frase de Jean Yves Leloup: "Perdoar alguém é não aprisioná-lo na prisão negativa de seus atos".
Da forma que recebemos, devemos repassar.
A parábola do "servo malvado" nos coloca diante de nós mesmos como protagonistas da nossa história no que diz respeito as nossas ações, sejam elas boas ou más.
O servo malvado, não tornou-se malvado: ele era malvado mesmo.
Todo aquele que ao receber um bem de Deus e, não o dispensa graciosamente, é malvado.
Aquele servo, mau saiu da presença do seu Senhor, perdoado, restaurado, revigorado - inteiro, logo encontra alguém que também lhe devia.
Somos todos devedores em algum aspecto.
A atitude do servo malvado, foi uma atitude malvada.
- Paga-me! O que me deves! Gritava ele.
Condenamos a atitude dele, mas a nossa, as vezes, chega a ser idêntica.
Nenhuma ofensa que recebermos será maior do que a ofensa que o nosso Senhor sofreu.
Não minimizo a dor da ferida de quem quer que seja - dor é dor e só sabe da dor quem a sente.
Feri muitas vezes!
Já fui injusto com tantos!
...é de consumir.
Fui ferido também...
Injustiçado inúmeras vezes.
A dor que sinto por ter ferido é maior do que a dor que sinto em minhas feridas.
No entanto, o meu Senhor foi ferido gravemente. Ele foi insultado! Ignorado. Ele foi menosprezado e teve que entregar a sua vida para que a vida de muitos fossem perdoadas. Ele perdoou cada ofensa!
Não só perdoou, mas deixou livre!
O Senhor daquele servo malvado o mandou buscar e disse: "servo malvado! perdoei-te aquela divida toda porque me suplicastes, não devias tu fazer o mesmo?".
Não devias tu, fazer o mesmo?
Sim! É tu mesmo (...) não devias fazer o mesmo que teu Senhor te fez?
Servo malvado!
Essa expressão está a dias em meus ouvidos.
Servo malvado.
Quem é o servo malvado, senão aquele que pede perdão de suas ofensas à Deus, mas não perdoa a quem lhe ofendeu?
Perdoar não significa não encolerizar-se. Pelo contrário, encolerizar-se é clamar por justiça, por reparo - é exigir que a divida seja paga! O Senhor daquele servo malvado exigiu que ele pagasse a divida. Ora, ele não estava devendo? Sim! Claro que estava, mas ele não tinha como pagar.
O seu Senhor então o perdoou e o deixou ir.
Não podemos excluir o desejo de que a justiça seja feita, mas o final desse desejo é a misericórdia e o perdão.
Não estou dizendo que perdoar não dói. Dói sim! E dói muito! No entanto, o perdão aliviará as dores pois, quem não perdoa, sofre também. Quem não perdoa também fica aprisionado. Quem não perdoa acaba matando o ofensor e carregando o cadáver dele nas constas da consciência.
Perdoar é tornar a vida possível novamente.
Olhar o ofensor com um olhar de Pedra, é jogar pedras nele.
Ao final da parábola, Jesus afirma: "Assim fará o meu Pai aqueles que do seu intimo, não perdoar a seu irmão".
É isso mesmo. O texto não deixa margem para debulhações.
Se não perdoarmos, não seremos perdoados.
Nosso perdão diante de Deus está vinculado ao nosso perdão aqueles que nos ofenderam terrível e vergonhosamente.
Se não perdoamos seremos chamados de, servos malvados.
Seremos chamados de servos malvados porque um dia ofendemos também e fomos perdoados, agora, quando deveríamos fazer como a nós foi feito, não fazemos.
Este texto, não é um texto simples e nem muito menos fácil: é de arrepiar!
Mas é real.
É, palavra de Jesus, o nosso Senhor, para nós.
Quem Deus, em Cristo, nos ajude.