sexta-feira, 7 de maio de 2021

Deus está Morto - O diagnóstico da Humanidade.

 


O homem Louco. – Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: “Procuro Deus! Procuro Deus!”? – E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? Disse um outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? – gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. “Para onde foi Deus?”, gritou ele, “já lhes direi! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? Não caímos continuamente? Para trás, para os lados, para frente, em todas as direções? Existem ainda ‘em cima’ e ‘embaixo’? Não vagamos como que através de um nada infinito? Não sentimos na pele o sopro do vácuo? Não se tornou ele mais frio? Não anoitece eternamente? Não temos que acender lanternas de manhã? Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós os matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? O mais forte e sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará esse sangue? Com que água poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de inventar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa desse ato, a uma história mais elevada que toda a história até então!” Nesse momento silenciou o homem louco, e novamente olhou para seus ouvintes: também eles ficaram em silêncio, olhando espantados para ele. “Eu venho cedo demais”, disse então, “não é ainda meu tempo. Esse acontecimento enorme está a caminho, ainda anda: não chegou ainda aos ouvidos dos homens. O corisco e o trovão precisam de tempo, a luz das estrelas precisa de tempo, os atos, mesmo depois de feitos, precisam de tempo para serem vistos e ouvidos. Esse ato ainda lhes é mais distante que a mais longínqua constelação – e no entanto eles cometeram! – Conta-se também no mesmo dia o homem louco irrompeu em várias igrejas , e em cada uma entoou o seu Réquiem aeternaum deo. Levado para fora e interrogado, limitava-se a responder: “O que são ainda essas igrejas, se não os mausoléus e túmulos de Deus?”.

NIETZSCHE, F. A gaia ciência. Aforismo 125

O Homem louco, Nietzschiano, esbravejou essas palavras por volta do ano de 1882, isso pela primeira vez. 

"Deus está morto". Essa é a constatação do Homem louco e que, provavelmente, refere-se ao Deus cristão. 

No entanto, o Deus morto do Homem louco, Nietzschiano, nada mais é do que as ideias morais da religião cristã que, segundo Nietzsche, estão em total desacordo com a realidade humana. 

Deus está morto, significa que seus valores são inadequados e impedem o desenvolvimento e amadurecimento do ser humano.

Deus está morto e o ser humano está agarrado no "nada".

Há tantas implicações aqui nesta frase de Nietzsche, que não é possível em um simples comentário abordar a sua abrangência. No entanto, o diagnóstico do Homem Louco, Nietzschiano é seguido de sua perplexidade: "Como fizemos isso? Como chegamos aqui?".

Em síntese, essa era a grande questão de Nietzsche.

E em parte, não será a grande questão no mundo atual?

Não será este, o grande questionamento?

Como chegamos a esta situação? Como chegamos até aqui? O que aconteceu e acontece com o ser humano na atualidade? Como nos tornamos tão egoístas? Como chegamos a nos devorar dessa forma? Será que Thomas Hobbes estava certo? "O Homem é o Lobo do Homem".

Será?!

Qual o diagnóstico da atualidade? Qual a resposta para os homens loucos - os homens loucos de Nietzsche que, andam pelas ruas a perguntar, contam os passos a lamentar, regam com lágrimas seus mortos a praguejar - eles também perguntam hoje, na atualidade - como chegamos a tal situação? Por que o homem, dentro de seu cardápio existencial, só se alimenta de poder? Por que está em cima ou acima dos outros é tão, masoquistamente falando, prazeroso? Porque o discurso, na boca dos pseudos representantes do povo é tão doce, na hora da captação dos votos (escada de suas ejaculações, fruto do coito entre a vaidade e o poder) e depois, na vida dos que legaram o poder à eles se torna tão amargo? Porque o deus deles é o ventre? 

São tantas as questões.

São montanhas de questionamentos.

Qual o diagnóstico da humanidade na atualidade?

O Homem louco está nas ruas e grita incessantemente: Deus está morto! Nós o matamos.

Há um ser humano em construção, gestado pela mídia sensacionalista, pagã, blasfema que através de seu olho de vidro, vende um produto que não compra. Há uma sociedade que vive em torno de ídolos e vez por outra joga lírios podres no mausoléu de Deus, como dizia o Homem louco Nietzschiano.

Como chegamos até aqui? Ora, Deus está morto! Nós o matamos e o expulsamos.

No entanto, os sinais vitais dessa sociedade estão, a cada dia mais fracos e mais frágeis e se Deus não for ressuscitado, logo estarão mortos também.

Quem senta na Cátedra do Universo antropológico? Certamente o Homem.

Deus está morto! Esbraveja o Homem louco.