I`II Be
Up The Sun/I`m Not Coming Down
Ficarei
lá em cima com o Sol; não vou descer.
U2
Quarenta
e oito anos e descobri algo que, neste momento, embora bobo e inocente, é para
mim uma descoberta real: não sei dançar conforme a música. A expressão popular;
dançar conforme a música, significa, viva
conforme o contexto exige, amolde-se ao pensamento atual, vá na mesma via que
todos vão, siga o que exige o momento.
Chego
aos quarenta e oito anos e descobri que não consigo viver assim. Não dá para
fechar os olhos, não dá para fingir, não dá para fazer de conta, não é possível
trair a si mesmo. Chega um momento na vida que a realidade é tão gritante que
engole a música barulhenta da ilusão. Há momentos que não é possível acompanhar
o fluxo e acredite, não ignoro o fato de muitas das vezes ter que ser assim,
não ignoro, não sou tonto, não sou alienado, vejo tudo ao meu redor e sei como
funciona, só não quero me submeter (...) não aceito a violência psicológica e
emocional como algo comum na atualidade. Me ponho contra o estupro moral, me
ponho com atrevimento diante do secularismo que afronta e relativiza a minha
fé. Me contorço diante de um sistema evangélico vendido à uma teologia que nega
a Soberania Divina e que o torna escravo dos caprichos, desejos e exigências de
um povo cuja demanda secular obriga-os a viverem “conforme toca a música”. Sinto
náuseas diante do mal! Há vômitos crônicos diante do mal que se veste de bem.
Há um aperto no estomago quando vejo o inocente sentir duvidas da ternura. Me
maltrata caminhar entre pessoas que desejam viver como se Deus não existisse ou
como se Deus fosse um xamã. Fico
condoído com pessoas que só pensam no vil metal (não estou negando a sua
importância, estou denunciando a sua centralidade). Não sei fazer caras e
bocas, minha máscara não prega no rosto, se desfaz rapidamente. Meu olhar me
denuncia, meu rosto fechado me condena, meu silencio é arma que me lança
sentença: esse não é dos nossos. Pois bem: não sei dançar conforme a música.
Quando
se sai, de súbito da luz do Sol, corre-se o risco de penetrar na penumbra da
escuridão. O Mundo é um lugar arriscado e há perigo na esquina. No entanto,
isolar-se dos extremos é uma posição sábia. Resta-nos viver, não na
contradição, mas na coexistência ou na realidade da coexistência das coisas: a
luz coexiste com as trevas, o mal coexiste com o bem (...) é mais ou menos
isso. Não se contaminar é o grande desafio e com isso não estou dizendo que
cairemos na idiotização, pelo contrário, conviveremos com os idiotas, sabendo
que são idiotas. Por idiota refiro-me a essência do termo: fechado em si mesmo,
seguindo o seu curso impoluto.
Ao
tolo, basta a sua própria tolice. Ir em direção ao tolo e demovê-lo do seu
caminho é como segurar um cão agressivo pelas orelhas.
Chego
aos quarenta e oito anos bem mordido, bem mastigado – nisso quase perdi a vida,
essa vida bios.
-
Você tem que andar conforme o fluxo que o rio manda! Diz alguns.
-
Dance conforme a Música! Dizem outros.
-
Tolere e tire vantagem! Grita outro acolá.
-
Aproveite e depois vomite no banheiro, isso passa! Ainda dizem terceiros.
-
O importante é que você vai viver bem! Insinua o medíocre.
-
O amor pouco importa, depois você aprende a amar! Fala o interior comido pela
arrogância.
É
estupido! É absurdamente estupido! É subumano! É escravizante! É negar a pessoalidade,
a personalidade (...) é negar o que se é.
Há um sistema voltado para esse estilo de vida que, diga-se de passagem, não é vida.
Viva ao dinheiro fácil! Venda-se ao mercado, renuncie seus princípios – abandone
seus valores.
As
pessoas acreditam que para viverem felizes precisam abraçar o secularismo.
Acreditam que precisam entrar na “onda”, precisam estar na mesma Vibe. Assim,
passam a viver uma existência de aparências.
Não
consigo andar na mesma Vibe para ser aceito.
Não
me enquadro no jogo.
Não
pertenço a isso.
O
sentimento de pertença, pertence a ordem da conquista e não da sedução. Seduzir
não é conquistar (...) seduzir é arrastar pela boca, com um anzol, afim de ser
devorado.
Não
nego também a dura luta travada entre a fome (a isca no anzol) e a abstinência
da vontade de comer (Desejo). Fico, porém, com a realidade de que ambas existem
e fazem parte dessa nossa estrutura humana. Viver em um mundo aonde temos que
escolher entre carne (natureza) e espírito (essência) é um exercício desgastante
uma vez que ambos existem e, embora possam ser colocados em seu devido lugar,
seria uma imbecilidade negá-los.
Com
tudo isso, mesmo assim, não consigo dançar conforme a música.
Mesmo
entendendo e ficando perplexo diante de tantas contradições, recuso-me a dançar
conforme a música.
Sigo
entendendo essa dualidade, sondando-a todos os dias, compreendendo-a e
convivendo com ela da melhor forma possível, sempre afirmando-a, nunca
negando-a, mas atento aos dois lados.
Não
sei dançar conforme a música. Escolhi o lado mais difícil, mas não o escolher
também seria difícil: qualquer caminho será difícil. Com quem você vai no
caminho, isso importa.
Eu
creio em um Cristo que dança, mas não conforme a música: sigo dançando com ele
então.
Nenhum comentário:
Postar um comentário