quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Heráclito de Éfeso

 



Heráclito nasceu aproximadamente no ano 544 a.C em Éfeso, na Jônia, hoje, atual Turquia. Heráclito era altivo e melancólico e constantemente desprezava a plebe. Sempre procurou não se meter na política e além disso tinha desprezo também pelos antigos poetas, pelos filósofos de seu tempo e até pela religião. Mesmo assim foi considerado por muitos o mais eminente pensador pré-socrático, pois buscava compreender a multiplicidade do real. Ele não rejeitava as contradições da realidade, mas procurava aprender a realidade na sua mudança.

Heráclito escreveu um livro intitulado sobre a natureza e chegaram até nós numerosos fragmentos em forma de aforismos e intencionalmente elaborados de um jeito obscuro. Aliás, Heráclito criou uma linguagem ambígua e de multissignificados e fez isso com a intenção de evitar a depreciação e desilusão daqueles que, lendo coisas aparentemente fáceis, acreditam entender aquilo que, não entendem. Foi justamente por isso que ele era conhecido como “Heráclito, o Obscuro”. Ele conseguia manter-se no anonimato, mesmo quando falava claramente. Donaldo Schuler falou o seguinte a respeito de compreender e traduzir Heráclito: “Traduzir Heráclito é entrar num jogo em que as imagens se multiplicam, jogo de ondas, efêmeras, vivas”. (Schuler,Donaldo 1932 Heráclito e seu (dis) curso/ Donaldo Schuler—Porto Alegre: L&M, 2000 (Coleção L&M Pochet) p. 12).

Isso revela o quão misteriosa e complexa eram as palavras de Heráclito. Tanto Heráclito quanto os outros filósofos pré-socráticos estavam interessados em fundamentar a origem do mundo e a transformação da natureza.

Certa vez pediram para que Heráclito elaborasse suas leis, mas ele desdenhou o pedido por que a cidade estava dominada por um mau regime político. Retirado no templo de Ártemis, divertia-se em jogar com as crianças e quando os efésios ficaram a sua volta admirando-se dele, então eles lhes perguntou: “De que vos admirais perversos?”. Que é melhor: fazer isso ou administrar a república convosco?”.

Heráclito tornou-se um Misantropo e passou a viver nas montanhas alimentando-se de plantas e ervas. Ele foi acometido de hidropisia e passou a andar na cidade perguntando aos médicos se podia fazer um aguaceiro uma seca; como os médicos não o compreenderam foi enterrar-se num estábulo e esperou que a água fosse evaporada pelo calor do estrume e como não lhe veio nem um resultado, assim findou sua vida aos sessenta anos.

 Principais ideias Heraclianas.

 

  • A doutrina do fluxo – A unidade (arché) do mundo consiste em uma eterna mudança. Todas as coisas mudam sem cessar. Heráclito afirmava que nunca nos banhamos no mesmo rio.
  • A supremacia do elemento fogo- Heráclito privilegia o fogo, adotando esse elemento como símbolo de sua filosofia: pelo fogo tudo se transforma. O fogo é o símbolo da eterna agitação de devir.
  • A doutrina da ordem subjacente ao mundo – Por detrás da ordem aparente existe uma harmonia oculta. O Logos rege essa harmonia superior. 

Alguns filósofos comentaram as idéias e os ensinamentos de Heráclito e dentre eles está:

 

* Aristóteles.

 

Convém absolutamente que o que se escreve seja fácil de ler e compreender, o que é a mesma coisa. Pontuar os escritos de Heráclito é um trabalho, por ser incerto se tal pontuação se liga a uma palavra anterior ou posterior como no começo do seu escrito: “Deste  logos...tenham ouvido”. (Pré-socráticos I p. 49)

 

* Platão.

 

Heráclito diz em alguma passagem que todas as coisas se movem e nada permanece imóvel. E, ao comparar os seres com uma corrente de um rio, afirma que não poderia entrar duas vezes num mesmo rio. Heráclito retira do universo a tranqüilidade e a estabilidade, pois isso é próprio dos mortos; e atribuía movimento a todos os seres, eterno aos eternos, perecíveis aos perecíveis. (Pré-socráticos I p.49)

 


* Sócrates.

 

O que ainda nos sobrou de Heráclito é excelente; daquilo que foi perdido para nós, podemos conjeturar que foi da mesma excelente qualidade. Ou se quisermos ter o destino por tão justo que sempre conserva, para os pósteros, o melhor, então devemos ao menos dizer que aquilo que nos foi transmitido de Heráclito valeu sua conservação. (Pré-socráticos I p.74)

 

* Nietzsche.

 

No meio da noite mística em que estava envolto o problema do vir-a-ser, de Anaximandro, veio Heráclito de Éfeso e iluminou-a com um relâmpago divino. Heráclito era orgulhoso: e quando, em um filosofo, há orgulho, é um grande orgulho. Sua atuação nunca o aponta a um “público”, à aprovação das massas e ao coro do aclamador dos contemporâneos. Traçar solitariamente o caminho é próprio da essência do filosofo. (Pré-socráticos I p. 74 e 81). 


 

 

 


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Amargura e suas raízes

 


"...para que, entre vós, não haja homem, nem mulher, nem família, nem tribo cujo coração, hoje, se desvie do Senhor, nosso Deus, e vá servir aos deuses destas nações; para que não haja entre vós raiz que produza erva venenosa e amarganinguém que, ouvindo as palavras desta maldição, se abençoe no seu íntimo, dizendo: Terei paz, ainda que ande na perversidade do meu coração, para acrescentar à sede a bebedice".

Deut 29.18,19

"Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados; nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado".

Hb 12.14-17


Alinhe os textos.

Observe a imagem que se desenha em sua mente.

Há um lado enormemente bom na exaustão dos estudos bíblicos: você ao estudar, descobre a verdade de certos termos utilizados, as vezes, fora do seu verdadeiro significado.

Os dois textos estão falando de um mesmo assunto. No entanto, um esclarece o outro. Um é a fonte para a compreensão do outro.

Por ventura você já experimentou ler os textos bíblicos e consequentemente seus temas a luz da própria bíblia? Já experimentou transitar entre as páginas das Escrituras e deixar de ser levado por gurus?

Os textos falam sobre a raiz de amargura.

O que é a raiz de amargura?

De onde vem a ideia do sentido de raiz de amargura?

O livro de deuteronômio fala sobre a raiz que produz erva venenosa e amaga.

O que patrocina a  a produção da raiz venenosa e amarga?

O texto responde: um coração que se desvia do Senhor cobiçando os deuses de outras nações ou adorando os deuses de outras nações. O texto de deuteronômio, ainda dirá o seguinte: Ninguém que abandone o Senhor, indo atrás de outros deuses (possibilidades que não seja ele) diga em seu coração que terá paz e que será feliz!

É o que está escrito, não?

O texto da epistola aos hebreus vai dizer que a raiz de amargura (o desvio do Senhor indo atrás de outras possibilidades que não seja ele) é contagioso!

Não deixe que ninguém lhe engane!

Vida é só no Senhor!

Existência pode ser em qualquer lugar.

Vida, Vida mesmo, só no Senhor!

Vivemos dias em que escutamos constantemente as pessoas dizerem que querem viver suas vidas, mas a Escritura nos afirma que Vida só se vive no Senhor!

Qualquer tentativa de felicidade fora da Felicidade que há no Senhor, é apenas um Paliativo, passa tempo, fingir que está tudo bem, dar satisfação social, colocar uma máscara de alegria quando na verdade se está triste!

Em Deuteronômio, Moisés diz que, ninguém diga que é realizado sem estar no Senhor e ninguém diga que fazendo o mau, estará feliz pois isto é engano!

O autor aos Hebreus vai dizer que esse tipo de engano é contagioso.

Quem anda com pessoas assim, acaba se contaminando com a raiz de amargura.

A raiz de amargura vem de uma erva venenosa e se instala no interior daqueles que acreditam que é melhor viver sem ser debaixo das Asas do Pai.

Há um sistema no mundo e ele é perverso.

Há uma nova torre de babel sendo construída e sua intenção é ferir os Céus!

Há uma sociedade, no escuro, fabricando um novo bezerro de ouro.

Há uma morte se vestindo de vida.

Há um amor vestido de anzol.

Há braços que escondem redes.

Não se engane...

Você não terá paz, se o Senhor não for a tua paz.

Para aonde estão lhe levando?

Quais conselhos você escuta?

Disso dependerá a sua sobrevivência.



J.R.S

Escrito na pandemia de 2020



sábado, 19 de setembro de 2020

A amizade no Contexto Filosófico

 


Sartre dizia que: "o inferno são os outros". mas Vinicius de Morais dizia que: "inferno é a ausência do outro".

Pura contradição. 

Tudo indica que para Sartre o outro era inferno quando tornava-se instrumento de perturbação, de agonia, de inquietação. Para Vinicius, o inferno era ausência do outro no sentido em que o encontro com o outro fosse produtivo e construísse amizades. O poeta Mário Quintana dizia que a amizade é um amor que nunca morre. Para a filosofia, a amizade pode nos ajudar a melhorar o endereço existencial, ou seja, a possibilidade que temos de melhorar as condições históricas de nossa existência. O momento histórico em que vivemos é muito propicio falarmos sobre amizades visto que vivemos num momento meio que cibernéticos onde a amizade relacional passou a ser a amizade virtual. A amizade como tema de discursão filosófica cabe bem na reflexão de Aristóteles que dizia: “A amizade pode ajudar os jovens a evitar o erro, auxilia os mais velhos na medida em que serão amparados em suas necessidades e os que estão em pleno vigor da idade”. Para Aristóteles, amigos são pessoas que andam juntas e por isso são mais capazes de pensar e agir juntas.

         O que torna a leitura desse tema tão significativo, a partir de Aristóteles são as três definições que ele apresenta sobre amizade. Para o filosofo Aristóteles o primeiro tipo de amizade é a amizade útil. São aqueles que fundamentam a amizade no interesse, amam-se por causa da utilidade que o outro tem. Este tipo de amizade ocorre principalmente entre os mais velhos. Segundo tipo de amizade é a amizade agradável. É justamente a amizade que produz conforto e faz bem, mas corre o risco de tornar-se interesseira. Terceiro tipo de amizade é a amizade ideal. É aquela que existe entre os homens que são bons e semelhantes na virtude, pois tais pessoas desejam o bem um no outro de modo idêntico, e são bons em si mesmos. Uma amizade desta natureza requer tempo e prática. Um desejo de amizade pode até surgir depressa, porém a amizade não. Considerando os fatos expostos, pode-se dizer que a amizade é um conceito aplicável a todas as formas de relações sociais. Segundo Aristóteles a amizade é mais importante do que a justiça. Ele diz que: “Quando os homens são amigos não necessitam da justiça ao passo que mesmo os homens justos necessitam de amizades; e considera-se que a mais autêntica forma de justiça é uma espécie de amizade. Para Aristóteles, o sumo bem é a ideia de felicidade, e ela para ser alcançada, necessita da ajuda de amigos virtuosos. Diante disso tudo o fato é que se nós nos esforçarmos em nossos encontros, a tendência é que serão momentos, fortalecimento de laços e amizades e, além disso, construiremos pontes de relacionamentos saudáveis. Para que a amizade seja saudável é necessário que o outro que está chegando me edifique e assim eu também o edifique. Na opinião da filosofa Maria Lúcia de Arruda Aranha, “Talvez não seja muito fácil encontrar verdadeiros amigos. Mas quando o temos vale a pena cultivá-los”.

         O filosofo brasileiro Leonardo Boff diz que a estrutura central do ser humano não é a razão e sim o afeto. Partindo desse pressuposto, pode-se então perceber que a amizade ocupa um lugar de destaque, sendo um dos principais bens que são necessários para a boa sociabilidade. Portanto, a existência do nosso encontro com o outro é uma excelente oportunidade para que possamos cultivar esse que é um dos maiores  bens, nossa amizade.