Tudo indica pelo decorrer da
história, que o homem parece ter sido, ou melhor, parece que ainda é o centro
das discussões e preocupações filosóficas e antropológicas. Cheio de
ambiguidades e paradoxos, o ser humano é conhecível e desconhecível, na mesma
proporção em que está perto também está distante, às vezes protege, mas também
agride, grita, mas também cala, anda pela rua, mas recolhe-se intimamente,
agrega e dispersa, corre e anda, na mesma proporção que concorda, discorda. O
ser humano é lógico e ilógico.
A leitura que fazemos do ser humano
é uma leitura pluriforme: conceituamos, porém, nosso conceito sobre o ser
humano às vezes é des-humano e pré-conceituoso. Há uma inquietação na
busca do sentido para o ser humano e um debate enorme, quanto a sua origem. No entanto a
antropologia tem se dividido em vários setores de reflexão, para oferecer
respostas à questão que atravessa os séculos: o que é o homem? Dentre esses
vários setores em que esta dividida a antropologia, esta a que nós conhecemos
como antropologia Cultural.
Antropologia é a ciência que tem
como objeto de estudo o homem e a humanidade, abrangendo todas as suas dimensões
lançando sobre ele um olhar questionador e investigador. Aqui o homem é visto
como um Ser a ser pesquisado e interrogado. Certa vez Juvenal Arduini,
professor de filosofia da Faculdade de Filosofia São Tomás de Aquino, fez o
seguinte questionamento com uma rápida declaração:
“Afinal,
quem é o ser humano? É ser inconcluso. É pulsação original. É interpelação
inquietante. É ser movediço. É existência peregrina. É identidade dançante. É
reboliço antropossêmico. Mina de significados”. (Antropologia: ousar para
reinventar a humanidade/ Juvenal Arduini – São Paulo – Paulus 2002 p.21).
Inusitado! Enigmático, mas
extremamente inquietante a questão levantada e declarada do professor.
Cultura é o conjunto de atividades
e modos de agir, costumes e instruções de um povo. É processo em permanente
evolução, diverso e rico. Emerson Giumgelli, doutor em antropologia social,
afirma o seguinte sobre a cultura:
“...
a cultura é definida como um sistema de símbolos, os quais articulam e veiculam
uma rede de significados. Se a cultura compõem-se de símbolos que permitem
interpretar a realidade, são também interpretações
da cultura que cabe ao antropólogo fazer”. (Sociologia da religião: enfoque
teóricos, Faustino Teixeira (org). 2 ed. – Petrópolis, RJ; Vozes, 2007. P.200).
A partir do conceito de
antropologia e Cultura, podemos dizer que Antropologia cultural estuda a
diversidade cultural humana procurando compreender o homem como um ser cultural
e social visando seu comportamento em grupos e relações sociais. Diante disso a
observação a ser feita de inicio é que o campo preenchido pela a antropologia é
bastante vasto e dominá-lo é tarefa árdua e complexa restando-nos apenas
passear pelo campo que a nossa mente e compreensão possa atingir e sinceramente
falando, possivelmente iremos andar por caminhos singulares, pois assim nascem
os campos antropológicos provocando divisões e sua pluralidade de direções.
A antropologia cultural pode ser
dividida em etnologia, linguística e
arqueologia. No século XX grande partes dos estudos estavam voltados a
registrar os diferentes estilos de vida de diversas culturas que ainda não
tinha experimentado a influencia da modernização. Os estudos estavam
focalizados na organização social, na religião, nas formas diferentes de
vestir, na cultural material, na linguagem. Durante a metade do século XX a etnologia conhecida hoje como, antropologia cultural associou o seu campo de estudo a antropologia social
desenvolvida por britânicos e franceses. Depois de anos de pesquisa, os
antropólogos da cultura desenvolveram a estratégia que acabaram chamando de “observação participante”. A proposta é a
seguinte: o antropólogo se introduz na vida da comunidade e por meio de
contatos e observações cotidianas, desenvolve a sua pesquisa. É de se imaginar
que isso não era um trabalho fácil de realizar visto as grandes dificuldades
que cada pesquisador enfrentava para concluir, em partes o seu trabalho, visto
que dependo da localidade onde ele realizava as pesquisas a língua falada era
um desafio a mais e aprender a linguagem das comunidades onde eram inseridos
levava semanas e até meses. Mas essa era a melhor forma para adquirir
conhecimento das comunidades e movimentos sociais. Estar presente participando
da vida diária e dos costumes das pessoas, geram um grau de conhecimento.
A partir do momento em que existe
esse contato em comunidade há também um compartilhamento de informações e
trocas de interesses mútuos, pois toda comunidade vive em torno de certos
propósitos específicos e isso é o interessante. São indivíduos que desenvolvem
relações entre si, pois a cultura lhes forneceu normas que dizem respeito aos modos apropriados de comportamentos
diante de certas situações. É importante enfatizar que quem transita neste
universo cultural precisar despir-se de seus conceitos e pré-conceito acerca da
vida individual: não há espaço para o individualismo numa vivência em
comunidade. Culturalmente falando, nós sabemos que no Brasil, por exemplo,
especificamente em alguns estados brasileiros, digamos assim, a convivência é
bastante impregnada de pré-conceitos e é impregnada de pré-conceitos por que
desde pequenos, os filhos da comunidade aprendem a ser preconceituosos e isso
também é cultura. Às vezes escutamos alguém dizer: “Fulano não tem cultura”.
Pronuncia equivocada, pois todo mundo tem “cultura”. Todos nós estamos
inseridos em algum tipo de cultura por que todos nós aprendemos costumes,
normas, estilos, forma de vestir, falar, se expressar e conduzir a vida. De um
jeito ou de outro, todos que fazem parte de uma comunidade, de um estado, de um
país esta automaticamente inserido e misturado em sua cultura. Às vezes usamos
a seguinte expressão: “Ah! Isso é cultural, faz parte da cidade”. O que
queremos dizer com tal frase é que, virou um costume, que se impregnou na
sociedade, aquele tipo de prática. Isso varia de pessoa para pessoa, de Estado
para Estado e de país para país.
No nosso Brasil, por exemplo, onde
há uma diversidade enorme de culturas por que cada estado tem seus próprios
costumes, seu modo de agir e pensar, são um campo fértil para pesquisa
antropológica. Há estados brasileiros que possuem gosto variados de musica,
dança comida, vestes e comportamento próprio de ser. O nordeste brasileiro, por
exemplo, é chegado num forró como opção de dança, num baião de dois como opção
de comida, numa praia como opção de terapia livre e entretenimento, numa roupa
mais leve como opção de vestes por causa das altas temperaturas. O dialogo
cultural entre os nordestinos é fácil e rapidamente identificável. Aonde um
nordestino chega é rapidamente identificado. Ora, o sotaque é forte, a
expressão é pesada e a forma de ver a vida é diferente.
Quero destacar algumas
manifestações que fazem parte da cultura Nordestina, por exemplo:
1.
A Cultura do riso.
Os nordestinos gostam de dar boas gargalhadas e para isso procuram fazer piada
de todo tipo, inclusive de situações bem delicadas como, por exemplo, a questão
da fome e da baixa renda de seus trabalhadores. Creio que isso é feito também
como uma forma de driblar a tristeza e a angustia de algumas pessoas. O sorriso
os faz esquecer um pouco a dor provocada pelos problemas. Aqui também entra um pouco a
questão da dor Cultural. O riso
também serve para isso. Por dor Cultural
quero dizer da falta de estrutura educacional que passam os nordestinos e
quando não há essa estrutura educacional o peito se enche de dor e com essa dor
vem o grito de desespero que desemboca na marginalização. Por isso o
nordestino, visando sufocar um pouco essa dor, faz piada de tudo: do gás quando
falta, do bolso liso (falta de dinheiro) quando não se tem dinheiro, de se estar só o bucadim quando se está doente, de
se estar com a barriga roncando
quando se está com fome e de dizer que vai dar certo quando tudo já está errado. Diante de uma situação assim, o nordestino busca força e esperança no
sorriso da piada desengonçada. Não é fácil lidar com a dor cultural, mas o
nordestino vai driblando as dificuldades com muito humor, sorrisos e coragem.
Afinal de contas nordestino é cabra macho.
2.
A Cultura do Artesanato. O artesanato é outra marca da
cultura do nordeste. Os trabalhos feitos em madeira, barro, areia e outros
elementos tendo como inspiração a própria imagem humana, os animais e a
natureza são facilmente encontrados. O nordestino é criativo e o que pensa em
fazer em forma de arte, acaba fazendo. No Nordeste encontram-se as famosas
areias que nas garrafas transformam-se em paisagens maravilhosas, além das
redes com punhos fortes e macia para dormir.
3.
A Cultura do forró. A musica é outro elemento
interessante na vida do nordestino. O forró é musica e dança típica do
nordeste. É muito difícil ouvir outra musica nos rádios e nos programas de TVS
que não seja forró ou tenha similaridade com o forró. A turma é chegada em um forrózim. É na dança e na musica que o
nordestino tira o cansaço da semana de trabalho. No final de semana o destino
são as casas de forró aonde bandas organizadas tocam musicas até o sol
despontar no céu. Antes, as musicas sempre de duplo sentido dividiam a opinião
das pessoas, mas agora o romantismo invadia a musica forrozeira no nordeste.
Dificilmente alguém ao vir para o nordeste, não dance um forró. Cidades como:
Ceará, campina grande na Paraíba, Maceió e Recife são adeptas do forró além de
outros estilos de musicas também.
4.
A Cultura do jeitinho
brasileiro. Na
verdade a cultura do jeitinho não é exclusiva
do nordestino, na verdade, na verdade, essa cultura é uma cultura do Brasil que
o nordeste apenas pegou emprestado e encarnou com muita propriedade e humor. Tudo
indica que o jeitinho nasceu no meio
do “Não pode e o será que a gente pode resolver de outra forma?”. Por exemplo:
a fila está quase dobrando o quarteirão e de repente chega uma pessoa e quer
entrar na fila, mas deseja ficar mais perto de ser atendido e a estratégia
adotada é ir de mansinho furar a fila,
ou seja, entrar na frente de alguém, mas rapidamente ele é detido e impedido,
alguém chega e diz: “Ei moço! A fila começa lá atrás, viu?”. Então sutilmente
ele responde: “Será que a gente não pode dar um jeitinho? Por que eu estou no horário de serviço e não posso
demorar”. Pronto! Essa é a jogada do jeitinho
brasileiro. O antropólogo brasileiro Roberto DaMatta fala a respeito do jeitinho
brasileiro dizendo o seguinte:
“O “jeito” é um modo e um estilo de
realizar. Mais que modo é esse? É lógico que ele indica algo importante. É
sobre tudo um modo simpático, desesperado ou humano de relacionar o impessoal
com o pessoal...”. (DaMatta Roberto, O que faz do brasil,
Brasil, ed. Rocco, 2001 p. 99).
É
nesse circulo que o “não pode” vira o “pode”, mas recheado de jeitinhos brasileiro. Esse jeitinho vai gerando no útero da
sociedade, novos estilos e formas para driblar certas situações. Do jeitinho vai nascendo a malandragem, no
bom sentido, claro. A malandragem da fala mansa, da tranquilidade, do
não-estress e assim se vai caminhando.
Nesse
ponto o jeitinho vai virando parte da
cultura do brasileiro e do nordestino. Antropologicamente falando, o homem vai
se adaptando de acordo como as situações vão surgindo ou de acordo como as
situações vão surgindo o homem vai dando o seu jeitinho.