Como já sabemos empírica e
cientificamente falando, o ser humano é uma complexidade de sentimentos, de ações,
pensamentos e reações. Há uma busca constante de autoafirmação daquilo que se
é. Mas o que se é? Como se é? É preciso fazer uma leitura do ser humano e suas
complexidades, mas fazê-la de uma forma sistemática e pesquisadora.
Em um período de tantas perdas,
guerras e luta pela sobrevivência é claro que o interior humano vai se
desgastando e isso sugere que ele seja acompanhado e ouvido para que suas
feridas, traumas e dores possam ser ao longo do tempo, sanadas. Para isso é que
a psicologia como instrumento terapêutico serve: para auxiliar o ser humano
tanto nas buscas de si mesmo, quanto nas interrogações e problemas emocionais.
No entanto a psicologia é um campo
vastíssimo e vamos aqui falar um pouco o que é psicologia, de sua importância para
a igreja cristã e para o meio eclesiástico e Clerical.
Todo assunto a ser abordado como
objeto de estudo ou de pesquisa, deve antes de qualquer outra coisa, ser
definido.
A psicologia, nosso objeto de reflexão é uma
área de atuação e de pesquisa que estuda o comportamento humano. Enquanto
ciência, a psicologia se interessa em compreender o ser humano em sua
totalidade, em sua relação com o mundo, a sociedade como como a si mesmo. Por
isso os profissionais que trabalham nessa área tentam explicar as várias formas
de agir do ser humano: seus pensamentos, comportamentos e emoções são
observados visando entender e compreender certas atitudes. Como o ser humano é
essa complexidade de sentimentos e pensamentos, a psicologia atua na área de
detectar possíveis problemas emocionais ou mentais que estejam prejudicando o
andamento da vida normal de uma pessoa.
É importante enfatizar que qualquer
pessoa esta sujeito a passar por dificuldades emocionais e enfrentar algum tipo
de distúrbio. Digo isso porque em minha concepção “todos” são “todos”.
Inclusive pessoas que são adeptos de religiões e no caso aqui especifico as
pessoas que congregam em igrejas cristãs. As igrejas tem tido um crescimento
considerável no Brasil e todo crescimento populacional, traz também seus
problemas. É neste aspecto que a psicologia vai mostrar a sua importância.
Há diversos artigos que apregoam em
alto e bom som que psicologia e igreja são antagônicas e por consequências
inconciliáveis. No entanto diante de tal declaração podemos medir o grau de
ignorância que algumas pessoas possuem por não tratar o assunto de um modo
geral, mas simplesmente especifico.
Quando observamos algumas
ferramentas utilizadas pela psicologia para o tratamento de algumas doenças
emocionais, percebemos que elas podem ser aplicadas a igreja sem dano algum,
claro, colocando tais ferramentas a disposição de uma boa reflexão bíblica.
Assim sendo creio que a psicologia é importante para a igreja nos seguintes
aspectos.
1.
No Sentimento de Culpa. Várias pessoas chegam à igreja e
estão na igreja envolvidas com sentimento de culpa e isso acontece porque nesta
estrada da vida se comete muitos erros, anda-se por várias estradas cuja terra
é cheia de pedras pontiagudas. Feridas, essas pessoas se dirigem a igreja que a
principio, é o instrumento de Deus para socorrê-las ajuda-las e restaurá-las.
Aqui as pessoas podem se utilizar da psicologia para tentar entender que tipo
de culpa essa pessoa carrega. Nessa abordagem a preocupação básica de quem
recebe na igreja, uma pessoa com sentimento de culpa deve ter em mente em sua
abordagem o que a pessoa fez e o que a levou a fazer. Se ela tem um sentimento
de culpa é porque provavelmente fez alguma coisa que, ou sua consciência, ou a
sociedade, ou a família, ou alguém dita como errado. Assim sendo é importante
diferenciar os tipos de sentimento de culpa.
·
Culpa real.
·
Culpa neurótica.
·
Culpa existencial.
O primeiro a aparecer na lista é o
sentimento de culpa real e este sentimento existe porque a própria consciência
em conjunto com a comunidade testificam que realmente houve um erro ou como é
de comum em comunidades cristãs, houve pecado.
A Culpa real vem, não de um sentimento duvidoso de culpa, mas de um sentimento
real de culpa. Vem de uma culpa real. Ou seja, aconteceu de fato.
O segundo a aparecer na lista é o
sentimento de culpa neurótica e esse sentimento não vem por um sentimento
objetivo de culpa como acontece na culpa real, mas ele aparece como sentimento
subjetivo de culpa. O sujeito sofre com a culpa porque acredita plenamente que
é culpado quando toda comunidade ao seu redor diz o contrário. A culpa
neurótica vem caminhando pela estrada do mundo imaginário, ou seja, essa culpa
só existe na imaginação do sujeito.
O terceiro a aparecer na lista é a
culpa existencial e tudo indica que, a culpa existencial é produzida
normalmente em cada ser humano. Este ser humano possui uma culpa existencial
encravada no seu ser que o deixa sentindo-se quebrado, meio metade e assim se
sentindo, sai em busca de se encontrar inteiro. Neste momento entra a igreja e
apresenta Jesus que, através do Espírito Santo vai trabalhar esse ser humano
até que ele chegue à estatura de varão perfeito.
Em uma análise detalhada de cada
sentimento exposto acima, logo entenderemos que esse tipo de sentimento é comum
em nossa sociedade e também nas igrejas cristãs. O que a igreja precisa
realmente é saber como lidar com cada um deles para que as pessoas que procuram
refúgio e auxilio possam encontra-los.
2.
O sentimento de inferioridade. Esse é outro tipo de sentimento
comum tanto na sociedade secular quanto nas comunidades cristãs e os motivos
que levam a desencadear tais sentimentos também são vários. Às vezes tal
sentimento desenvolve-se durante a adolescência, às vezes vem do tempo de
criança e ainda às vezes ocorre na fase adulta, depende muito do momento em que
a pessoa esteja passando ou enfrentando. O trabalho do psicólogo tendo como instrumento
as ferramentas adequadas da psicologia e o conhecimento da Escritura Sagrada é
diagnosticar o que está causando tal sentimento de “ser” inferior. É assim que
uma pessoa se sente quando nela se desenvolve esse sentimento: “ser” inferior. O
que muitas vezes lamento é que no mundo eclesiástico as pessoas relegam um
sentimento de inferioridade a apenas uma ação diabólica. Por exemplo: quando
alguém aparece na igreja com sentimento de inferioridade, tratam logo em dizer:
“Isso é coisa do Diabo!”. E creio que em uma determinada esfera de ação o Diabo
se aproveite do momento, mas não creio que toda ação é patrocinada por ele. Há
pessoas que se sentem inferiores a outros por não ter conseguido realizar um
sonho ou coisas semelhantes. No entanto ela nutriu esse sonho a cada dia.
Existe uma poesia de Fernando Pessoa que fala um pouco sobre isso: “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso
querer ser nada. A parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. (Poemas
de Álvaro Campos: obra poética/Fernando Pessoa; organização, introdução e notas
Jane Tutikian – Porto alegre, RS: L&M, 2008 p. 160). O texto fala por si,
não carece de interpretação. O fato é que todos nós somos sujeitos a transitar
nesta via de variações psicológicas. Por isso a igreja dispõe da psicologia
como instrumento para auxiliar o processo de cura das doenças emocionais.
3.
O sentimento de baixa estima alta. Aqui está a soma dos dois
sentimentos citados acima. A baixa autoestima tem levado muitas pessoas ao
ostracismo e depressão. Esse é o tipo do sentimento que agrega em si todo
sentimento de in-potencialidade. É a
sensação de não ter forças, de não ter pique, de faltar às pernas na hora da
corrida. A alta-baixa-estima tem influência direta na vida cotidiana do individuo
e pode alterar todas as expectativas a respeito de qualquer coisa. Pode não
parecer, mas a igreja está cheia de gente assim. São membros, obreiros e até
pastores que se encontram nessa situação, mas claro, não deixam transparecer
porque, afinal de contas, o que vão dizer de um cristão com alta-estima-baixa?
É justamente desse ostracismo, dessa hibernação, desse casulo que vão nascer às
doenças emocionais. O agravamento dessas doenças não vem da doença em si, mas
da negação da doença, ou seja, quanto mais eu nego que estou doente mais doente
eu fico porque nego. Daí nasce aquela velha dor existencial que tem haver com o
modo de como você se vê e vê o mundo ao seu redor. A projeção do olhar vai
criando o universo aonde você transita. Certa vez Jesus disse: “Se os teus olhos forem bons, todo o teu
corpo será luminoso; mas, se forem maus todo o teu corpo estará em trevas”
(Lc. 11.34). É no olhar a si e as coisas que os sentimentos brotam. Cristo nos
deu essa dica para pratica diária. Façamos assim então.
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