quarta-feira, 8 de outubro de 2008

RECONSTRUINDO SUA HISTÓRIA

“Minha alma, continuamente, os recorda e se abate dentro de mim. Quero trazer a memória o que me pode dar esperança”. Lamentações de Jeremias 3.20, 21.

A história avança e a nossa existência avança juntamente com ela, e não existe nada, mas nada mesmo, que possamos fazer, senão avançar para dentro dela. Existimos e devemos viver, mas viver totalmente conscientes de que esse existir vai nos proporcionar várias experiências que nos farão sorrir e chorar, cantar e silenciar, correr e parar. A experiência do sorriso nos marca, levanta-nos e impulsiona a seguir em frente. Com essa experiência é fácil lidar. Mas existem as experiências catastróficas, irritantes, traumáticas e muitas vezes desesperadoras. O desespero é a não conformação com o fato de que aquilo que se esperava não acontecerá e isso nos leva a enfrentar crises que, no final de tudo, nos proporcionará um encontro conosco mesmo. É justamente nas crises e nos momentos difíceis que passamos nesta terra, que fazemos viagens profundas ao nosso ser e quase sempre em buscas das respostas das interpelações que fazemos todos os dias. E quando saímos em busca dessas respostas pensamos, e o fato de que pensarmos nos introduz na descoberta fantástica que pode até parecer bobagem, mas as vezes não nos damos conta: Existimos. O filosofo francês René Descartes disse isso: “Penso, logo existo”. Mas quando chegamos a esse pensamento, descobrimos que existe outra coisa que nos leva a essa realidade. O Filosofo e pensador dinamarquês Kierkegaard disse outra coisa que se confunde com isso que Descartes disse: “Sinto, logo existo”. Não é só existir, é sentir também. Sentimos certas coisas por que existimos e existimos por que sentimos certas coisas e muitas vezes são essas coisas que sentimos que causa um tremendo frisson em nossa alma. Por isso sofremos!!! Por isso choramos!!!! Por isso gritamos!!! Por isso nos desesperamos!!! Por que pastor? Por que somos humanos!! O humano esta sujeito às dores dessa vida. Quem captou de uma forma sensível a presença da dor no mundo, foi Francisco Otaviano que, em uma de suas poesias, se expressou dessa forma: “Quem passou pela vida em brancas nuvens e num plácido repouso adormeceu; quem passou pela vida e não sofreu, não foi homem, foi espectro de homem porque só passou pela vida e não viveu”. Por mais que tentemos viver sem dor e por mais que tentemos exorcizá-las, elas chegam, entram e penetram, e de uma forma absurda nos agridem principalmente em nossa vida psicológica e emocional. Parece que a história também é feita de dores, ou melhor, é construída em dores, em meio a lágrimas e soluços. Diante disso estamos nós que, juntamente com a história, sentimos dores e sofremos violências que marcam a nossa história para sempre. Mas a pior dor ou a que mais nos agita é aquela que fica registrada, arquivada e catalogada na memória. Essa dor é gerada por palavras que foram lançadas de maneira destrutiva, agressiva, cuja finalidade era diminuir e despotencializar o nosso valor. Palavras que geram sentimentos de inferioridade e causam ausência de dignidade promovem a dor que fica parada e muitas vezes engessada na memória. Tudo isso acontece com pessoas que estão bem próximas a nós e com certeza, isso acontece com a gente também. Todos nós carregamos em nossa memória algo amargo e isso não acontece porque nós queremos que aconteça. Isso acontece por que os fatos acontecidos ficam registrados em nossa memória e por mais que queiramos apagar, não é possível. O que fazer então? O que fazer com as lembranças amargas que estão registradas em minha memória? Como me livrar disso? A quem recorrerei? Quem pode me ajudar? Como me livrar dessa lembrança? E aquilo que fizeram comigo na minha adolescência, na juventude, como me livrar disso? O texto acima narra um episódio na vida de um servo de Deus que conhecemos bem através da leitura da Bíblia Sagrada. Jeremias carregava em sua memória cenas terríveis e que lhe machucavam dia e noite. Esse texto esta inserido no livro das lamentações de Jeremias. O livro de lamentações expressa o profundo pesar de Jeremias sobre aquele evento calamitoso na história do povo de Deus. Essa obra é comumente atribuída a ele e foi escrita logo depois da queda de Jerusalém, em 586 a.C. Jeremias entra em total desespero ao vê a cidade queimada e praticamente destruída pelos exércitos de Nabuconosor. Ao contemplar a cidade naquele estado, a angustia, a dor e a tristeza tomam conta do seu ser e isso é manifesto através desse livro. O olhar de Jeremias esta sobre a cidade e é um olhar para o sofrimento tanto das pessoas quanto seu próprio. É o olhar de tentar compreender tudo aquilo que estava acontecendo. Tentamos compreender o sofrimento na medida que ele vai acontecendo, mas as vezes ele é tão estarrecedor que fica difícil. C.S Lewis certa vez disse: “... o sofrimento é um mal as claras, indiscutível”. A dor de Jeremias era uma grande dor e o texto é escrito em um tom fúnebre e recheado de lágrimas: “Com lágrimas se consumiram os meus olhos, turbada esta a minha alma, e o meu coração se derramou de angústia por causa da calamidade da filha do meu povo...” (Lm 2.11). Eu fico imaginando as cenas que ficaram gravadas na memória de Jeremias. Aquelas cenas que vez por outra surgiam como flashes e lhe causava uma profunda tristeza. Tenho quase certeza que as noites de Jeremias eram longas e enfadonhas e com pesadelos terríveis. Assim como na vida de Jeremias, na nossa também somos pegos vez por outra lembrando de certos acontecimentos que ficam registrados a fogo em nossa mente. Jeremias travou uma grande luta contra as lembranças amargas que estavam em sua memória. Quem sabe eu não estou falando com pessoas que neste momento estão lendo esse artigo e que assim como Jeremias travam uma luta enorme contra lembranças que insistem em permanecer na memória? E talvez, como Jeremias, você esta se perguntando: o que fazer? Como responderemos isso? Observando justamente como Jeremias se comportou. Aqui precisamos parar e pensar não como nós agiríamos, mas como Jeremias reagiu. Nesse momento eu não posso pensar no “meu, eu” mas no “tu, dele”. Será que deu pra entender? Jeremias pro-jeta o seu olhar para longe, mas bem para longe mesmo. Ele desvia o seu olhar do horizontal e começa a olhar para cima, para algo bem maior do que tudo aquilo que esta ao seu redor. Jeremias começa a pensar na possibilidade de reconstruir uma nova história em vida e para que isso se torne uma realidade, ele para de pensar um pouquinho em tudo aquilo que esta acontecendo e diz: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se a cada manhã. Grande é a tua fidelidade. A minha porção é o Senhor, diz a minha alma...”. Jeremias começa a dizer para sua alma: “ Existe esperança da minha história ser reconstruída juntamente com a dos meus irmãos... O Senhor, apenas o Senhor pode reconstruir nossa história”. Apenas Deus meus irmãos, pode oferecer a solução para as experiências amargas da nossa vida. Deus é o Senhor da nossa história e todas as vezes que ela é abalada, ou melhor, todas as vezes que circunstâncias tentam abalar nossa história, Só Ele, sim! Só o Senhor pode reconstruí-la. Glória ao seu Nome por isso!!!! Lembre-se: Deus pode reconstruir sua história. Creia!!!



Jeorgino da Silva

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